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O “açougue” é destaque nacional – por Professor Nazareno

 Umas duas ou três semanas após o Instituto Trata Brasil e outras instituições de renome nacional mostrarem ao Brasil e ao mundo que Porto Velho, a suja, caótica e fedorenta capital de Roraima, é a pior dentre as 27 capitais do Brasil em qualidade de vida, em saneamento básico, coleta de lixo e água tratada, eis que outra reportagem, desta vez no Domingo Espetacular da TV Record, denuncia e escancara mais uma vez o caos vergonhoso da saúde pública da cidade e do estado, mostrando as entranhas carcomidas do já surrado e conhecido “açougue” João Paulo Segundo, que funciona como hospital de pronto-socorro há quase 40 anos. A reportagem poderia até passar despercebida e virar uma triste rotina nacional se não fosse o uso abusivo que muitas autoridades políticas fazem dali para turbinar as suas aspirações pessoais. O João Paulo II é uma mina de ouro.

       O velho “açougue” pode até ser o pesadelo de muita gente pobre que precisou e ainda precisa usar as suas insalubres e podres dependências, mas foi e continua sendo “a galinha dos ovos de ouro” para muitos dos candidatos a vários cargos públicos. Dali, governadores já viraram senadores, secretários de saúde já viraram deputados federais, cidadãos comuns já viraram vereadores e até deputados estaduais. São as fedorentas, imundas e lotadas salas de internações do João Paulo que elegem todos os anos muitas das autoridades de Porto Velho e de Rondônia. E o pior é que quase nenhuma dessas mesmas autoridades usa aquelas dependências para cuidar de sua saúde e a dos seus familiares. Se o “açougue” deixar de existir de uma hora para outra, muitos políticos terão que se reinventar para turbinar as campanhas eleitorais. É a lógica do quanto pior, melhor.

          O hospital João Paulo Segundo de Porto Velho foi concebido para ser daquele jeito mesmo: nunca irá funcionar direito. Até porque só os pobres é que vão para lá morrerem à míngua como animais abandonados. Até os hospitais da Faixa de Gaza, que está em guerra contra Israel, têm melhores condições de atendimento do que aquele logradouro rondoniano. Ultimamente, a enganação da vez foi a pseudo construção em Porto Velho de um “hospital-modelo” para substituir aquele “campo de extermínio de pobres” e que tem até nome em inglês: é o “Built to Suit”, cuja construção já está, claro, devidamente paralisada esperando talvez a proximidade das eleições estaduais, pois para as eleições municipais deste ano o trunfo dos políticos é a inauguração da nova rodoviária da cidade. Assim, o novo hospital de pronto-socorro de Porto Velho nunca sairá do papel.

      Além do mais, se a “capital das sentinelas avançadas” tiver um bom hospital público para os seus doentes cidadãos, como ficará a medicina privada, que depende estrategicamente das mazelas e do caos existentes na saúde pública? E os caríssimos planos da saúde de Porto Velho e de Rondônia, será que gostariam de ver um hospital do estado funcionando como funcionam os bons hospitais públicos de Londres, Paris, Viena ou Copenhagen? Só que a lógica infame de Rondônia é a mesma do Brasil: cria as dificuldades para vender facilidades. E o povão eleitor, ignaro e broco não vê nem percebe nada disto. Votará sempre naqueles que têm as promessas mais bem boladas. As eleições municipais, por exemplo, já têm até alguns candidatos disparados para faturar o pleito. Governador, prefeitos, vereadores, deputados, senadores têm bons planos de saúde e também dinheiro para viajar a tratamento fora do estado. A miséria e o caos compensam!

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