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O 4 de janeiro da depressão!

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Para o Brasil, de um modo geral, a data 4 de janeiro é um dia como outro qualquer e sem nenhuma importância. Para Rondônia, no entanto, é uma data até importante. Foi neste dia há exatos 42 anos que fora instalado o Estado de Rondônia, a “nova estrela no azul da união”. Só que o próprio Estado não comemora nada neste fatídico dia. O feriado, pasmem, foi antecipado este ano para o dia 3 de janeiro como se nenhuma importância tivesse. Na instalação de Rondônia, eu ainda jovem, estava lá observando a estranha euforia de se instalar uma nova unidade da federação. O fato é que Rondônia até hoje só deu tristezas e vergonhas para o país que acabara de gestar o lugar. Para se criar tudo isso aqui foi preciso trazer levas e mais levas de sulistas desempregados, e também por isso se desmatou como nunca grandes e extensas áreas de cerrado e da rica floresta amazônica.

 

O Estado de Rondônia foi criado no dia 22 de dezembro de 1981 e só foi instalado no ano seguinte para que não se perdessem as festas e, portanto, as farras de fim de ano. São mais de quatro décadas de tristezas e vergonhas para o Brasil. Um dos maiores desmatamentos em dois grandes biomas reconhecidos internacionalmente para quê? Para absolutamente nada. O próprio coronel Jorge Teixeira dizia na época que não se cria um Estado pujante e moderno só com pessoas pobres. “Aqui vemos todo os dias desceram dos ônibus um pai, uma mãe, vários filhos, um cachorro e um saco de panelas”, afirmava. Na verdade Rondônia foi criada só para dar suporte à Arena, o partido da cruel e infame Ditadura Militar. Os militares e a direita conservadora perdiam a cada dia mais apoio no Congresso e criando um novo Estado aumentaria o número de parlamentares governistas.

Mas a tragédia maior foi para o meio ambiente. A criação de Rondônia foi uma desgraça para a natureza e também para o restante do país como um todo. Até hoje, com a construção das hidrelétricas no rio Madeira e a queima da floresta amazônica todo ano, Rondônia sacaneia o restante do país “exportando” fumaça tóxica durante o verão. Hoje, continuamos desmatando como nunca, envenenando os rios com mercúrio, exterminando nossos índios e exportando servidores aposentados para morar em todos os recantos do Brasil. Pior, com a ideia grotesca de se reconstruir a BR-319 para ligar Porto Velho a Manaus, Rondônia vai dar um tiro de misericórdia em toda a Amazônia. E por aqui não há nada que lembre progresso e desenvolvimento. Não temos aeroporto decente com voos regulares, não temos porto no rio Madeira, não há saneamento básico. Continuamos fritos.

A vergonha daqui está também na política. A corrupção e as administrações públicas sérias e mais comprometidas com o povão mais necessitado nunca passaram de um sonho longe e distante. Aqui há muita corrupção e desmandos em quase todos os 52 municípios do Estado. O Brasil tem hoje, mais uma vez, um governo de esquerda, progressista, mas os eleitores de Rondônia, sempre na contramão, são quase todos eles totalmente da direita e da extrema-direita. Todos os “zeróis” de Rondônia são, por exemplo, pessoas da elite, ricas ou ligadas ao agronegócio. Se quisermos ter mais um pouco de atenção, deveremos fazer o impossível e eleger nas próximas eleições só os candidatos da esquerda. Rondônia foi um dos maiores desastres em todos os sentidos para o Brasil e continua a sê-lo nestes mais de quarentas anos. Nunca tivemos seca e hoje já temos. Nunca tivemos terrorismo e agora já tem. Só falta mesmo chover merda no Estado.

 

*Foi professor em Porto Velho

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