Não há conclusão no caso dos desaparecidos de Rondônia durante travessia ilegal aos EUA
Ao todo, 3.252 brasileiros foram pegos cruzando ilegalmente a fronteira em 2016, uma média de nove casos por dia. É o contingente mais elevado dos últimos cinco anos
O número de brasileiros detidos tentando imigrar para os Estados Unidos cresceu 142% no ano passado em relação a 2015, segundo dados da Patrulha da Fronteira norte-americana.
Ao todo, 3.252 brasileiros foram pegos cruzando ilegalmente a fronteira em 2016, uma média de nove casos por dia. É o contingente mais elevado dos últimos cinco anos.
Em 2015, foram detidos 1.344 brasileiros. Os números do governo norte-americano são contabilizados pelo ano fiscal do país, entre os dias 1° de outubro e 30 de setembro do ano posterior.
A principal rota dos brasileiros continua sendo a fronteira mexicana: 3.118 (96%). Num distante segundo lugar, aparece a costa da Flórida, com 91 casos (42 em 2015). Essa região é o porto de desembarque dos brasileiros que cruzam de barco a partir das Bahamas.
A travessia pelo mar do Caribe é tida como menos arriscada do que a do deserto na fronteira com o México -e também mais cara, cerca de US$ 20 mil (R$ 65 mil), o dobro do que a por terra.
Desde 6 de novembro, no entanto, 12 brasileiros estão desaparecidos tentando chegar aos Estados Unidos via Bahamas. Até o momento, não há conclusão definitiva sobre o que aconteceu com o grupo, que reúne imigrantes de Minas Gerais, São Paulo, Pará, Paraná e Rondônia.
O recorde de brasileiros detidos continua sendo 2005, com 32 mil casos. A maioria se entregava às autoridades americana logo após cruzar a fronteira com o México com a perspectiva de ser liberada em seguida para apresentação posterior em um tribunal -o que raramente ocorria.
Esse fluxo foi abruptamente interrompido quando o presidente da época, o republicano George W. Bush, criou um mecanismo de deportação automática, sem direito a recurso judicial.
NOVA ONDA
“A chegada aumentou pelo menos em 60% no ano passado”, afirma o padre gaúcho Volmar Scaravelli, diretor de um centro de acolhida de imigrantes em Framingham. A cidade é a maior comunidade de brasileiros na Nova Inglaterra, com uma população estimada de 35 mil.
Há 15 anos nos EUA, Scaravelli explica que os recém-chegados atendidos pelo centro são principalmente de classe social mais alta em comparação a levas anteriores. Geralmente, se mudam com toda a família.
“O lado bom é que têm mais cultura, se viram no inglês e vêm com algum dinheiro, têm fundos. O ruim é que não estão acostumados com trabalho pesado, carregar granito, limpar casa”, compara o padre gaúcho.
Por causa do perfil socioeconômico, os novos imigrantes geralmente conseguem entrar de avião, com visto de turista, explica Scaravelli. A segunda rota do grupo é a fronteira mexicana, seguida pela rota das Bahamas.
Outro fenômeno recente é de imigrantes que haviam voltado ao Brasil, se arrependeram e agora tentam a sorte nos EUA pela segunda vez.
“O fluxo é tanto dos que já têm documentos e voltaram ao Brasil quanto dos que foram deportados. Uns chegam pela porta de entrada, e outros pela porta de trás”, afirma o padre paulista Cristiano Barbosa, voluntário que atua em duas comunidades católicas de brasileiros na área de Boston.
Há oito anos nos Estados Unidos, o padre Barbosa diz que os brasileiros têm cada vez mais medo de falar sobre como chegaram ao país e sobre a sua situação legal.
“As pessoas passaram a falar menos desde que o [presidente eleito, Donald] Trump começou a despontar”, afirma Barbosa. “Eles têm medo do discurso.”
Durante a campanha, o republicano, que toma posse em 20 de janeiro, prometeu construir um muro na fronteira com o México e realizar deportações em massa de imigrantes ilegais.
Com informações da Folha de S. Paulo