Incêndios no Pantanal fecham rodovia, obrigam evacuação de pousadas e matam fauna: ‘difícil encontrar animais vivos’, diz veterinário
O pior novembro em quantidade de focos de fogo no Pantanal já registra mais de 3 mil incêndios em 15 dias. As chamas consumiram mais de 1 milhão de hectares do bioma.
O pior novembro em quantidade de focos de fogo no Pantanal já registra mais de 3 mil incêndios em 15 dias. As chamas consumiram mais de 1 milhão de hectares do bioma.
Os incêndios que atingem o Pantanal há mais de 30 dias avançaram pelo Parque do Pantanal e Encontro das Águas e chegaram à rodovia Transpantaneira, a principal via de acesso ao bioma em Mato Grosso, que liga Poconé, a 104 km de Cuiabá, a Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul.
Até agora, o fogo consumiu mais de 1 milhão de hectares do bioma, o triplo do registrado em 2022 inteiro. É o novembro com mais focos de fogo (3.024) desde 2002. Mais de 290 agentes trabalham para apagar as chamas.
O biólogo Gustavo Figueiroa, diretor do projeto SOS Pantanal, disse que a situação no local está fora de controle. Imagens registradas por voluntários, bombeiros e brigadistas mostram que parte da flora e da fauna está destruída.
O médico veterinário Anderson Fernandes Barreto disse que, na proporção em que o fogo está, somente uma chuva forte conseguiria controlá-lo.
“O Pantanal era um bioma que tinha muito animal, hoje a gente chega nesses pontos e tá até difícil de encontrar animais vivos. Infelizmente o que a gente está vivenciando aqui é um cemitério a céu aberto. A fauna e a flora vêm pagando com a vida esse preço dessa imprudência de nós seres humanos”, destacou Anderson.
O especialista também pede para que as pessoas que estejam transitando pela rodovia tenham prudência e mantenham a velocidade reduzida. Segundo ele, muitos animais tentam fugir do fogo atravessando a via e, eventualmente, podem ser atropelados.
As 10 áreas mais atingidas pelo fogo são:
- Terra Indígena Tereza Cristina: 50,57%
- Parque Estadual Encontro das Águas: 34,79%
- Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense: 27,31%
- Fazenda Estância Dorochê: 84,50%
- Terra Indígena Kadiweu: 20,10%
- Fazenda Rio Negro: 16,78%
- Poleiro Grande: 80,26%
- Terra Indígena Baía dos Guató: 17,30%
- Serra das Araras: 3,41%
Em Mato Grosso do Sul, o fogo avançou pela BR-262. Um vídeo gravado de dentro de um carro mostra as chamas consumindo a vegetação às margens da estrada e a fumaça invadindo a pista, impedindo a passagem segura dos condutores.
Nas imagens, é possível ver que o motorista ficou com visibilidade mínima ao passar por parte do incêndio, no qual se formou um verdadeiro “corredor de fogo”.
Já em Mato Grosso a preocupação das equipes é que o fogo ultrapasse a rodovia Transpantaneira, que é cercada de casas, fazendas e pousadas. Nesta quinta-feira (16), hóspedes e brigadistas alocados nessas áreas precisaram sair às pressas.
Agora, além de evacuar os locais de risco, as equipes tentam resfriar as áreas para evitar que o incêndio chegue até as áreas construídas.
Com 150 km de extensão, a Transpantaneira cruza a maior planície alagável do planeta e é conhecida por ser um atrativo turístico da região.
Resgate na Transpantaneira
Uma equipe do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad), resgatou mais animais nessa quinta-feira (16), na região da Transpantaneira.
Uma ave da espécie cabeça seca foi encontrada com parte do corpo sangrando e foi atendida pela equipe veterinária.
Em outro registro, é possível ver um sapo se refrescando com água oferecida pela equipe de resgate. A água cai de uma garrafa d’agua que um dos voluntários seguram, enquanto outro está com o animal em mãos.
Outros animais atingidos
A zoóloga americana Abigail Martin, fundadora do projeto Jaguar Identification, que estuda o comportamento das onças-pintadas na região de Porto Jofre, registrou o momento em que duas antas fogem do incêndio.
Nas imagens, é possível ver os animais entrando no rio, enquanto o fogo cresce ao fundo. Além das antas, um ouriço também foi encontrado com todas as patas queimadas.
Uma onça-pintada batizada de Patrícia, que é conhecida por estar sempre acompanhada dos filhotes Naurú e Yanomami, foi vista caminhando sozinha entre as cinzas dos incêndios. Até o momento, não se sabe onde os filhotes estão.
Outras imagens também mostram um jacaré que morreu queimado pelas chamas. Nesta semana, veterinários registraram outras espécies mortas, como macaco, veado, ouriço, entre outros.
Uma sucuri foi encontrada morta ao lado de seus ovos em meio às brasas de um incêndio no Pantanal mato-grossense.
🔥Pantanal em chamas
O fogo já consumiu mais de 1 milhão de hectares do Pantanal neste ano, o triplo do registrado em 2022, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa/UFRJ).
Somente nos primeiros 15 dias de novembro foram 3.024 focos, o pior registro para o mês na série histórica desde 2002, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A série tem dados desde 1998.
O governo de Mato Grosso publicou, nesta terça-feira (14), um decreto de emergência ambiental que reforça as ações de combate aos incêndios no Pantanal. No domingo (12), o governo federal enviou mais 90 brigadistas para combater os incêndios – o total de agentes agora é 299.
O decreto prorroga o período proibitivo para queimadas no estado até 30 de novembro, e atende à exigência do governo federal no pedido de apoio para combate aos incêndios.
🐆O bioma
O Pantanal abriga uma diversidade única, incluindo várias espécies ameaçadas, ao todo são:
- 🌱3,5 mil espécies de plantas
- 🐟325 espécies de peixes
- 🐸53 espécies de anfíbios
- 🐊98 espécies de répteis
- 🦜656 espécies de aves
- 🐆159 tipos de mamíferos
Onça-pintada, jacaré, tuiuiú, ipês, jacarandás e entre outros integrantes representam o Pantanal. Além disso, ele atua como regulador natural de enchentes, porque absorve e armazena água durante períodos chuvosos.
O Pantanal também funciona como um reservatório de água doce com altitudes que alcançam 150 metros. Seus recursos hidrológicos são importantes para o abastecimento das cidades, onde vivem aproximadamente 3 milhões de pessoas, no Brasil, Bolívia e Paraguai.
Via G1