Empresas da Lava Jato são responsáveis por no mínimo dez obras de energia do PAC 2
18 de novembro de 2014
Dyelle Menezes e Thaís Betat
Com o envolvimento das maiores empreiteiras do país, a mira da operação Lava Jato pode chegar também ao setor elétrico. De acordo com levantamento do Contas Abertas, as empresas envolvidas no esquema de corrupção são responsáveis por pelo menos dez obras do setor de energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).
Os dez empreendimentos estão localizados nas regiões Norte e Nordeste, em estados como Piauí, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Rondônia, Pará e Tocantins. Oito obras são referentes a usinas hidrelétricas e duas a aproveitamentos hidrelétricos. O Ministério de Minas e Energia faz o acompanhamento do andamento das iniciativas.
A única obra que já está em execução se refere aos aproveitamentos hidrelétricos a serem realizados na região de Tabajara, em Rondônia. Para esta obra, as empresas Construtora Queiroz Galvão S/A, Eletronorte, Endesa Brasil S.A., Furnas Centrais Elétricas S/A são as responsáveis oficiais. Segundo o levantamento, a obra em execução chegou a registrar R$ 16,2 milhões já aplicados.
As empreiteiras Queiroz Galvão e Camargo Corrêa são as encarregadas de realizar obras em nove das dez iniciativas do PAC 2. Dentre os empreendimentos estão, por exemplo, a usina hidrelétrica de Marabá, que atende aos estados do Pará, Maranhão e Tocantins, e de Cachoeira, entre o Maranhão e o Piauí.
Entre as obras, duas são consideradas “Emblemáticas”, isto é, são mais impactantes e relevantes de acordo com o governo. Mesmo assim, as obras das usinas hidrelétricas de São Luiz de Tapajós e em Jatobá (PA) ainda estão em estágio de ação preparatória, ou seja, não saíram do papel.
A Odebrecht, por sua vez, é responsável pela usina hidrelétrica de Riacho Seco, que será construída nos estados da Bahia e Pernambuco.
De acordo com o 10° Balanço do PAC 2, o Eixo Energia realiza ações de geração e transmissão de energia elétrica, exploração de petróleo e gás natural, fertilizantes, refino, petroquímica e combustíveis renováveis, além de revitalização da indústria naval.
O eixo tem o objetivo de expandir a geração de energia limpa e renovável, e ampliar a produção de petróleo e gás para garantir o abastecimento necessário ao crescimento do País.
Foco no setor elétrico
De acordo com o jornal O Globo, a suspeita da Polícia Federal é de que o esquema operado pelo doleiro Alberto Youssef vá além da Petrobras e envolve o setor elétrico. A suspeita decorre de uma planilha intitulada “Demonstrativo de Resultado — Obra Jirau”, com a contabilidade da Camargo Corrêa na obra da hidrelétrica no Rio Madeira, em Rondônia, encontrada na mesa de João Procópio de Almeida Prado, acusado de ser braço-direito do doleiro.
A empreiteira foi uma das sócias do consórcio que arrematou a concessão até 2012, quando vendeu sua participação. Segundo o Ministério Público Federal, Prado era o elo do esquema de Youssef com a Camargo Corrêa. Ele é concunhado de João Ricardo Auler, presidente do conselho de administração da Construções e Comércio Camargo Corrêa, um dos presos na Lava-Jato.
Youssef disse à Justiça que Auler foi seu principal contato na construtora antes de Eduardo Hermelino Leite, atual vice-presidente da empresa, preso preventivamente. Leite é o único executivo de empreiteira, até agora, acusado pelo doleiro de ficar com parte do dinheiro da propina a ser dividido com os políticos. Procurada, a Camargo Corrêa informou que o Prado “jamais prestou serviços” para a construtora e que desconhece a planilha citada.
Segundo um delator na Operação Lava-Jato, as empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras atuavam de forma articulada, em um “clube”, como era chamado, com reuniões periódicas e um grupo VIP, formado pelas gigantes do setor.
As denúncias também podem chegar à Administração Direta. Confira matéria do Contas Abertas sobre os valores pagos pela União às empresa envolvidas na Lava Jato.