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Eletrobras reduz investimentos em mais de R$ 1 bilhão em 2014

 

Após apagão que atingiu estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste no mês passado, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) justificou o corte em razão da elevação da demanda no horário de pico. Enquanto, o consumo de energia cresce, a Eletrobras reduz investimentos. A queda nas aplicações da estatal atingiu R$ 1,3 bilhão em relação a 2013.

No ano passado, a estatal aplicou R$ 6,3 bilhões em obras e compra de equipamentos para o setor. Em 2013, R$ 7,6 bilhões foram destinados para os investimentos. A diminuição acompanhou a própria previsão feita pela empresa para as aplicações do período. A dotação passou de R$ 9,2 bilhões em 2013 para R$ 8,9 bilhões em 2014.

O levantamento do Contas Abertas foi realizado com base na portaria nº 2, de 30 de janeiro de 2015, publicada no Diário Oficial da União de ontem (2). Os dados estão em valores constantes, atualizados pelo IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas. As informações fornecidas pela própria Eletrobras são uma da únicas formas de acompanhar os investimentos das estatais brasileiras.

A queda atingiu, por exemplo, a implantação da Usina Termonuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro. A empresa aplicou 87,2% dos R$ 2 bilhões previstos para o empreendimento, o equivalente a R$ 1,8 bilhão. Em 2013, a execução de investimentos da obra alcançou 98,3% do R$ 1,5 bilhão autorizado. Ou seja, houve aumento de quase 1000% no valor que deixou de ser utilizado de um ano para o outro.

Quando entrar em operação comercial, em 2018, a usina, com potência de 1.405 megawatts, será capaz de gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora por ano, energia suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante o mesmo período.Com Angra 3, a energia nuclear passará a gerar o equivalente a 50% do consumo do estado do Rio de Janeiro.

De acordo com a Eletrobras, a energia gerada pela usina será de grande importância para impulsionar o crescimento da economia do país, garantindo a eletricidade necessária para abastecer os lares, as empresas e a indústria nacional. As etapas de construção da unidade incluem as obras civis, a montagem eletromecânica, o comissionamento de equipamentos e sistemas e os testes operacionais.

O mesmo aconteceu com o ritmo de investimento na iniciativa que pretende ampliar o Sistema de Transmissão de Energia Elétrica na Região Nordeste. Com o segundo maior aporte orçamentário previsto pela companhia, apenas R$ 418,8 milhões dos R$ 629,1 milhões foram efetivamente aplicados no ano passado, o equivalente a 66,6%. Em 2013, a execução foi de 90,3% dos R$ 478,8 milhões.

Apagão de janeiro

Por volta das 15h do dia 19 de janeiro, o ONS, órgão responsável pela gestão do suprimento nacional de energia, determinou redução na transmissão de eletricidade em estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O apagão durou até as 15h45, quando a normalização da distribuição foi autorizada.

De acordo com o Operador, há folga de geração de energia no Sistema Interligado Nacional, mas restrições na transferência das regiões norte e nordeste para o sudeste, aliadas à elevação da demanda no horário de pico, provocaram a redução da frequência elétrica.

O órgão não poderia afirmar que a falha no fornecimento de eletricidade não foi previsto. No relatório do Plano de Ampliações e Reforços da Rede Básica (PAR), divulgado no final do ano passado pelo próprio ONS, constatou que dentre 310 obras antiapagão que precisam ser construídas entre 2015 e 2017, 104 já haviam sido requeridas em ciclos anteriores.

Em outras palavras, 34% das obras necessárias foram solicitadas em anos passados e já deviam estar em operação para evitar riscos de pane e apagões, mas não foram licitadas pelo governo.

De acordo com o ex-presidente da Eletrobras no governo Lula e diretor da Coppe (Coordenação da Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ), Luiz Pinguilli Rosa, o apagão em referência revela a vulnerabilidade do sistema em momentos de alto consumo e baixo nível dos reservatórios da região Sudeste e Centro-Oeste, especialmente.

Para ele, a falha na transmissão do norte para o sudeste ocorreu porque o sistema está muito próximo ao limite, por conta do elevado consumo de energia neste verão quente.

Para solucionar o déficit da oferta energética, o especialista acredita que deveria-se lançar um programa de conservação de energia, com descontos para aqueles que economizam e penalidades para quem gasta demasiadamente.

“Por uma questão política o governo não quer chamar de racionamento, mas há a urgência de lançar programas de conservação de energia para atravessarmos o verão. É melhor racionar o uso agora do que enfrentar cortes maiores no futuro,” afirmou ele ao jornal Gazeta do Povo.

Se o cenário for conservado, com baixo nível dos reservatórios e baixo índice de precipitação, 2015 será pior do que o ano passado e enfrentará maiores riscos de apagão, de acordo com o especialista.

A Eletrobras não respondeu aos questionamentos do Contas Abertas até o fechamento da matéria.

Atualização

Por meio de nota, a Eletrobras afirmou que está, anualmente, batendo recordes de investimentos. A companhia considera seu orçamento global, envolvendo investimentos diretos de suas controladas e investimentos em parceria com a iniciativa privada. “Em 2012 o orçamento foi de cerca de R$ 13 bilhões, dos quais foram realizados 85%. Em 2013, foram realizados R$ 11,2 bilhões, dos R$ 13,4 bilhões orçados. Embora ainda não tenhamos fechado o realizado consolidado de 2014, estimamos um investimento da ordem de R$ 11,4 bilhões, ou seja, 78% do valor aprovado. Para 2015, repetiremos o orçamento de R$ 14,1 bilhão. A Eletrobras está preparada para responder aos desafios do setor elétrico, garantindo a geração e transmissão de energia limpa e confiável para a sociedade brasileira”, explica.

Dyelle Menezes e Gabriela Salcedo

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