‘…E o golpe fracassou!’
A íntegra da coluna redigida por Professor Nazareno
A íntegra da coluna redigida por Professor Nazareno
Eu tenho 64 anos. Nasci em agosto de 1958. Neste tempo de vida já presenciei pelo menos três golpes de estado no Brasil. O primeiro foi em 31 março de 1964. Eu era muito pequeno e me lembro de poucas coisas, mas sei que aquele deprimente espetáculo circense durou pelo menos 21 anos. Com medo do comunismo, a elite nacional aliou-se aos militares, depuseram João Goulart e instalaram uma feroz Ditadura Militar que exilou muitos brasileiros, proibiu eleições para presidente, cassou, matou e torturou quem lhe fez oposição. O segundo foi mais recente: em 17 de abril de 2016 quando o Congresso Nacional, por iniciativa do deputado Aécio Neves do PSDB, derrotado nas eleições presidenciais, aliou-se ao vice-presidente Michel Temer e ao Supremo Tribunal Federal e tiraram Dilma Rousseff do poder. Já o último golpe foi dado no dia 8 de janeiro de 2023.
Por ser um golpe de estado contra uma democracia instalada a duras penas, todas essas agressões foram ridículas. O golpe de 64 foi o mais violento e cruel de todos, pois durou mais de duas décadas e assassinou muita gente. O de 2016 “virou pó” em apenas 6 anos e 8 meses com a posse de Lula para o seu terceiro mandato. Já o terceiro golpe foi o mais patético de todos. Foi abortado no seu nascedouro e mostrou ao mundo que a nossa democracia, embora seja jovem e frágil, resiste como uma fera em defesa de suas crias. Derrotado nas urnas nas últimas eleições para presidente, Jair Bolsonaro, o presidente da extrema-direita, que passou seus quatro anos de mandato fazendo ameaças claras à democracia, se refugia nos Estados Unidos dois dias antes da posse do novo governo. De lá, pode ter insuflado os seus fanáticos seguidores a derrubar Lula e o PT para ele assumir.
Acampados pateticamente em frente aos quartéis de todo o país desde que perderam as eleições em 30 de outubro passado, muitos dos chamados “patriotários” encheram uma centena de ônibus e foram a Brasília “para tomar o poder, derrotar o comunismo e restaurar a liberdade”. Numa sombria tarde de domingo, dia 8 de janeiro, invadiram, ocuparam, depredaram e saquearam os prédios dos três poderes na vã esperança de que teriam apoio das Forças Armadas e do aparato policial nas suas intenções golpistas. O delírio dessa “meia dúzia de burros aloprados” foi tanto que muitos já imaginaram os tanques enferrujados e gotejando óleo dando apoio aos golpistas de mentirinha. Com o STF e o Congresso Nacional ocupados e fechados, o governo Lula renunciaria diante do caos e Bolsonaro voltaria triunfante dos EUA para assumir o poder.
Mas nem a Polícia Militar nem o Exército, totalmente, caíram na lorota do golpe e a maioria dos vândalos terroristas e arruaceiros foi presa. Dependendo do país, muitos deles seriam sumariamente fuzilados sem sequer ter direito à defesa por atentar contra a democracia e tentar a abolição de forma violenta do estado democrático de direito. Caçados agora como ratos, muitos vão pagar pelo que destruíram e ainda amargar um bom tempo atrás das grades. A postura firme do governo Lula e do STF conseguiu salvar, por enquanto, a nossa democracia. Falta agora saber quem planejou, quem financiou, quem incentivou e quem se omitiu na fatídica invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília. E cabeças já estão rolando pela estupidez de se tentar dar um golpe de estado sem perceber a conjuntura política internacional. Com gentinha assim na oposição, Lula pode fazer um péssimo governo. Todos devem se preparar para outras investidas fascistas.
*Foi Professor em Porto Velho