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Crise econômica faz cidades diminuírem Carnaval pelo país; Rondônia está no rol

Com parte das fantasias prontas, a escola de samba Mocidade Alegre, de Juiz de Fora (MG), precisou guardar tudo para, quem sabe, desfilar no próximo ano. Culpando a crise, a prefeitura propôs reduzir em quase 70% a verba das agremiações, que preferiram cancelar a folia.

Como a cidade mineira, ao menos outras 53 em nove Estados cancelaram ou reduziram as festividades carnavalescas devido às dificuldades financeiras enfrentadas pelos municípios.

E, no lugar de confetes, serpentinas, escolas de samba, blocos e shows, as cidades —onde há verba— estão investindo em ambulância, abrigo para crianças, salas de aula e obras antienchentes. A seca nos cofres atinge principalmente municípios pequenos, mais dependentes de repasses estaduais e federais.

“Reduzir, como proposto, de R$ 65 mil para R$ 22 mil faria o espetáculo ser de baixa qualidade. Já há preconceito de que Carnaval usa dinheiro público e, se fosse apresentado algo ruim, só aumentaria isso”, disse o publicitário Henrique Araújo, diretor da Mocidade Alegre mineira.

Só em Minas Gerais, os cancelamentos ou reduções atingem ao menos 26 cidades. Em São João del-Rei, os R$ 350 mil de verba do desfile vão virar operação tapa-buraco (R$ 200 mil) e apoio à saúde (R$ 150 mil), segundo o secretário de Cultura e Turismo, Pedro Leão. O Carnaval dos blocos está mantido.

Henrique Araujo, diretor de Carnaval da Mocidade Alegre, de Juiz de Fora (MG), em meio às fantasias já prontas que ficarão um ano guardadas Henrique Araujo, diretor da Mocidade Alegre, de Juiz de Fora, em meio às fantasias já prontas

MARIANA

Em Mariana, onde o rompimento da barragem da Samarco, de propriedade da Vale e da BHP Billiton, causou um rastro de destruição, o Carnaval está mantido. Mas será menor.

Apesar de a prefeitura afirmar que só a ausência da barragem gera perdas de até R$ 70 milhões neste ano, o Carnaval local tem atraído inclusive artistas de cidades que cancelaram a festa.

“Discutimos muito [a realização], assim como o Natal Luz. A população pede para não deixar morrer as tradições. [A tragédia] Deixou uma imagem de que a cidade foi devastada, mas na zona urbana não aconteceu nada. Se apagar o Natal e o Carnaval do nosso calendário, morremos juntos”, disse o prefeito Duarte Júnior (PPS).

Há casos também em São Paulo, Paraná, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia e Alagoas -onde o veto atingiu até a capital, Maceió.

Em Porto Ferreira (SP), os R$ 150 mil do cancelamento serão usados para comprar uma ambulância, segundo a prefeita Renata Braga (PSDB). “As nove ambulâncias que temos não são suficientes. Quando quebra uma, a consulta do paciente não pode ser desmarcada, e nos obriga a buscar outros meios.”

Em Irati (PR), a verba de cerca de R$ 100 mil será usada para ajudar a conter alagamentos no centro, enquanto Rolim de Moura (RO) usará R$ 120 mil para construir três salas de aula. Cruz Alta (RS) reformará um abrigo para jovens. Em Pernambuco, a crise cancelou a festa em Cabo de Santo Agostinho.

SEM ACORDO

Em Batatais (SP), que tem um dos mais tradicionais desfiles do interior, a falta de dinheiro cancelou o evento após meses de negociação.

“Teríamos de repassar verba ainda em 2015, para dar tempo de preparar tudo, mas não tínhamos como assumir o compromisso à época”, disse o vice-prefeito José Paulo Fernandes (PSDB).

Especialista em Carnaval, Zélia Lopes da Silva, docente da Unesp de Assis (SP), disse que as festividades estão sendo canceladas no país porque “nunca foram prioridade”. “Não só Carnaval, nenhuma festa é prioridade.”

Segundo ela, a necessidade de verbas do poder público mostra um grau de dependência que não existia. “O sustentáculo dos eventos de Carnaval não são mais os clubes, como décadas atrás. Em momentos de crise, ele só continua em locais com muita tradição. Se não tiver isso, não tem como.”

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