CPI vai investigar cartel de frigoríficos
“Nesta terça-feira (16), voltamos do recesso e a CPI será instalada. Um dos pontos principais que iremos apurar é a contrapartida dos frigoríficos, beneficiados com isenção fiscal de até 85%. Ou seja, o Governo abre mão de recolher imposto, mas em troca as indústrias abatedouras precisam cumprir uma série de pré-requisitos. Vamos ver se isso está sendo cumprido”, destacou.
O presidente disse ainda que “a CPI é séria e vamos tomar as medidas legais necessárias, para evitar que Rondônia continue tendo prejuízos. A estimativa é de que R$ 1 bilhão deixou de circular, no ano passado, na nossa economia, em razão dessa queda inexplicável na arroba do boi”.
A reunião, no Palácio Rio Madeira, em Porto Velho, foi mais uma ação do “Grito da Pecuária”, organizado por entidades representantes dos criadores de Rondônia, com apoio da Assembleia Legislativa e contou com as presenças do governador Confúcio Moura (PMDB), do vice-governador Daniel Pereira (PSB), do senador Valdir Raupp (PMDB), do deputado federal Nilton Capixaba (PTB), secretários estaduais e criadores de Vilhena a Porto Velho.
Os deputados estaduais Adelino Follador (DEM), Lazinho da Fetagro (PT), Laerte Gomes (PEN), Só na Bença (PMDB), Edson Martins (PMDB), José Lebrão (PTN), Jesuíno Boabaid (PTdoB), Alex Redano (SD) e Dr. Neidson (PTdoB) também participaram da reunião.
“Defendemos um preço justo e equilibrado da nossa carne, que tem uma qualidade alta e com a garantia de sanidade do rebanho. Sem nenhuma explicação, no começo de junho do ano passado, a arroba caiu de R$ 146,00 para R$ 115,00, de um dia para outro. Em nenhuma outra região do país houve essa queda brusca”, observou.
O presidente cobrou dos representantes dos frigoríficos uma justificativa ao baixo preço da arroba. “Perdermos para o Pará, que sempre teve a arroba mais barata do país, é inaceitável, pois temos um produto de alta qualidade. Essa explicação de que a queda nas exportações para a Rússia influenciou na diminuição do preço em Rondônia, não me convence, nem à maioria dos pecuaristas aqui presentes”, completou.
Maurão lembrou que a Assembleia, no final do ano passado, através da Comissão de Agricultura, tentou mediar um acordo entre criadores e o setor frigorífico, sem sucesso.
“Os representantes dos frigoríficos não enviaram nenhum representante. Também pudera, estão ganhando dinheiro como nunca ganharam antes. A arroba baixou R$ 30,00 de uma vez, mas a carne nos açougues e mercados não baixou, pelo contrário. Tem alguma coisa errada e por isso criamos a CPI, para nos aprofundarmos nesse tema vital para a economia de Rondônia”, acrescentou.
Maurão colocou em discussão a proposta de assegurar um preço mínimo na arroba do boi, com uma redução de até 10% da média de preço praticado em São Paulo, pelos frigoríficos com incentivos fiscais. “Vamos trabalhar em conjunto com o Governo a construção de um projeto de lei neste sentido, como uma ação inicial”, informou.
Governador cobra
O governador fez uma cobrança direta aos frigoríficos: a recomposição dos preços da arroba do boi, para os patamares do começo de junho do ano passado.
“Qual a explicação para essa queda, de um dia para outro, de R$ 30,00 na arroba do boi? Os preços precisam ser corrigidos de imediato, voltando ao patamar de junho passado. O Executivo vai fazer o que for possível e necessário para que haja um equilíbrio no setor”, disse Confúcio, que deixou o vice-governador comandar a reunião.
Produtores se manifestam
Em seguida, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Rondônia (Faperon), Hélio Dias, falou sobre as dificuldades que os criadores enfrentam e apontou uma pauta de demandas.
“A água chegou ao pescoço, não dá mais para suportar. Melhoramos nosso rebanho e nos últimos sete meses, vimos o preço de a arroba despencar. Sempre a média era de até 10% do valor da arroba em São Paulo. Hoje, esta diferença está em torno de R$ 31,00. Foi uma manobra para alinhamento dos preços e isso prejudica Rondônia”, denunciou.
Após reuniões em Vilhena, Cacoal, Ji-Paraná, Jaru, Ariquemes e Porto Velho, no mês passado, os criadores definiram uma pauta de reivindicações, que foi apresentada na reunião.
A redução da pauta do boi, da vaca e do bezerro para zero, para a venda em outros Estados; a revisão dos incentivos fiscais aos frigoríficos; o estímulo à abertura ou reabertura de plantas frigoríficas, facilitar a implantação de pequenas unidades de abate e aferição das balanças dos frigoríficos, foram algumas das propostas.
O presidente da Associação dos Pecuaristas de Rondônia, Adélio Barofaldi, mostrou dados sobre o crescimento da pecuária no Estado.
“Aproximadamente 65% dos criadores têm em média até 100 cabeças. São eles que mais sentem a queda no preço da arroba. A perda em um boi gordo chega a até R$ 500,00. Por isso, muitos estão vendendo o bezerro ou o boi em pé para outros Estados”, relatou.
Frigoríficos tentam se explicar
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, disse que uma das razões para o baixo preço da arroba do boi em Rondônia é a diminuição das exportações para a Rússia. “Com a crise russa, houve uma redução no volume de carne exportada, além de a moeda russa ter se desvalorizado”.
Segundo ele, hoje Rondônia tem venda liberada para poucos países, como Chile, Jordânia, Paraguai e Cingapura, mercados que, na avaliação dele, não consome carnes nobres.
“Não temos caixa preta, mas sem mercados robustos para absorver a nossa carne, não teremos preços competitivos. Estamos distantes dos centros exportadores e isso encarece o produto”, ponderou.
Segundo Camardelli, a saída é assegurar a homologação para a venda da carne à União Européia, cuja inspeção está prevista para maio. “Com isso, vão ser abertos mercados como o da China, da Coréia do Sul e do Japão, que consomem cortes mais nobres e valorizados. Mas, eles só compram de países já homologados junto à União Européia”, completou.
Ele cobrou mais fiscais agropecuários e veterinários, por parte do Ministério da Agricultura (Mapa), como forma de agilizar essa homologação. “O mercado norte-americano também está se abrindo para Rondônia, mas precisamos mostrar capacidade de fiscalização do abate”, alertou.
Renato Costa, representante do grupo JBS Friboi, justificou como um dos fatores para a queda no preço da arroba, o fato de o Irã ter deixado de comprar a carne rondoniense.
“Esse foi mais um fator que reduziu a nossa competitividade. Muitos falaram em abrir plantas frigoríficas, mas isso não é indicado, pois o custo de manutenção é muito alto e não compensaria”, disse ele, rebatendo acusações de que o Friboi compra plantas e as mantém fechadas.
Já Luiz Freitas, do frigorífico Tangará, explicou que o preço da carne no Pará se valorizou, pois agora é exportada para o Nordeste. “O Sudeste não atende mais o Nordeste e o Pará aproveita esse mercado, que não enfrenta crise”, argumentou.
Produtores rebatem
Em seguida, produtores reclamaram das justificativas. A alegação de todos é de que apenas 80% da carne abatida em Rondônia são destinadas a exportação. “Com o dólar em alta e a nossa carne comercializada em sua maioria no mercado interno, como aceitar que foi a redução na venda para a Rússia que derrubou os preços?”, questionou Barofaldi.
Maurão lembrou que a arroba da carne em Rondônia despencou de preço em junho, enquanto o Irã deixou de comprar carne apenas no final do ano. “Mais uma vez, é uma explicação sem sentido, por isso precisamos ir além, com a CPI, para esclarecer isso tudo”, garantiu.
Uma nova reunião entre pecuaristas, Governo e os frigoríficos deverá ocorrer no próximo dia 25, em local a ser definido. A pauta de reivindicação será estudada pelos frigoríficos e o Executivo também vai proceder a estudos sobre o setor.