Sobre os gênios de Van Gogh e Fernando Pessoa

Se um homem leva toda sua vida lutando contra a mediocridade contemporânea, em busca de se tornar grande, mas a sua grandeza só virá póstuma, que proveito teve este empenho…? Assim, penso que Van Gogh está para pintura como Fernando Pessoa para poesia…. Gênios ignorados pelos estudiosos do seu tempo…

Fernando Pessoa publicou, em vida apenas um livro, e isso foi porque se inscreveu em um concurso promovido pelo estado. Todavia, sua obra, por ser curta, e não existir um juri com capacidade de analisar seu trabalho pelo valor poético e histórico, e não pelo número de páginas, deram o primeiro lugar para um padre, pois segundo eles, este livro do padre tinha mais conteúdo, ou seja era bem mais grosso do que o livro do Fernando.

“Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje,que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos,ou quando menos, os seus companheiros de espírito?”

Penso que há sim um paralelo entre Van Gogh e Fernando Pessoas, é claro que Fernando não teve um final tão trágico como Van Gogh, que deu cabo em sua própria vida, com um bala, que por asar não acertou o coração como desejava, mas no que tange às suas personalidades, solitárias e insatisfeitas com sua sorte, são de fato semelhantes. Ambos não tiveram sorte com o amor, sofreram com a rejeição, não tiveram sorte ou paciência para lidar com o sexo oposto.

“Esquecer-se de si, realizar grandes coisas, atingir a generosidade, e ultrapassar a vulgaridade na qual se arrasta a existência de quase todos os indivíduos…” 

Na produção foram ambos grandes criadores de novidades, a ponto de criarem revolução com sua arte. Embora não tenham sido reconhecidos em vida, suas obras são pilares indestrutíveis para segurar toda uma eternidade criativa,  capaz de influenciar gerações futuras.

O que se deve lamentar, é que gênios como eles não usufruíram os bônus materiais e espirituais do seus trabalhos, não beberam o vinho da satisfação de ser reconhecidos.  Se um homem leva toda sua vida lutando contra a mediocridade contemporânea, em busca de se tornar grande, mas a sua grandeza só virá póstuma, que proveito teve este empenho…?

Van Gogh vendeu apenas um quadro em vida, contudo deixou milhares de obras para o deleite da humanidade, mas, por ironia do destino, coisa que só acontece com os gênios extemporâneos, em 1990 um quadro seu foi vendido pela bagatela de 82,5 mil dólares. Fernando Pessoa é hoje reconhecido como o maior poeta de língua portuguesa, mas morreu sem fama, e solitário, em profundo estado de abandono social, tinha poucos amigos, e nenhum amor para lhe segurar a mão na hora da partida, daquilo que ambos consideram como mundo injusto.

 

Evan do Carmo, Nascido na Paraíba em (29/04/64) é poeta, escritor, romancista, jornalista, músico, filósofo e crítico literário. Fundou e dirigiu o jornal Fakos Universitário. Criou em 2009 a revista Leitura e Crítica. Tem 22 livros publicados, sua obra está disponível em 12 países, (um livro editado em inglês. (O Moralista) Entre outros estão: O Fel e o Mel, Heresia poética, Elogio à Loucura de Nietzsche, Licença Poética, Labirinto Emocional, Presunção, O Cadafalso, Dente de Aço, Alma Mediana, e Língua de Fogo. Participou também com muitos contos em antologias. Foi um dos vencedores do concurso Machado de Assis do SESC DF de 2005. Em 2007 foi jurado na categoria contos do concurso Gente de Talento 2007 promovido pela Caixa Econômica Federal, ao lado de Marcelino Freire. Em 2012 criou e editou até 2015, os Jornais: Correio Brasília, Jornal de Vicente Pires, Jornal de Taguatinga e o Jornal do Gama. Evan do Carmo é estudioso da obra de José Saramago, em 2015 publicou o livro Ensaio Sobre a Loucura, e o livro Reflexões de Saramago, momentos antes de sua morte, o livro nos oferece um panorama perfeito na voz do próprio Saramago em forma de ficção ensaísta, sobre a obra do Nobel Português. Em 2016 criou a Editora do Carmo e o projeto Dez Poetas e Eu, onde já publicou 100 poetas, e o livro Um Brinde à Poesia, uma obra de coautoria com outros poetas contemporâneos.

Palestras e oficinas literárias (61) 981188607

Evandro é colaborador desse jornal. Quem quiser participar com seus artigos científicos ou não, entre em contato com nosso jornal pelo e-mail ou por telefone.

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