Quando o homem criou Deus, deu-Lhe três adjetivos inatingíveis e inalcançáveis para os seres humanos: Ele seria onipotente, onisciente e onipresente. Ou seja, teria poder acima de tudo e de todos, teria consciência, saberia de tudo e estaria ao mesmo tempo em todos os lugares. Com o passar do tempo, no entanto, essas características que o homem deu a Deus ao inventá-Lo, estão aos poucos sendo questionadas. Depois do dilúvio e das muitas pestes que assolaram e ainda assolam a humanidade, muitas pessoas se perguntam para que serve tanto poder num único ser. As incontáveis mortes causadas por estas catástrofes poderiam ter sido evitadas para acabar com tanto sofrimento. Falar da Sua onisciência é outra coisa que também incomoda. Será que Deus não sabia das más consequências para o Brasil com a eleição do Jair Bolsonaro?
Como um Ser com tanto poder e onisciência permitiu que um sujeito como o “Bozo”, por exemplo, fosse eleito presidente? O Bolsonaro é uma desgraça para o Brasil. Sua maldita eleição não pode ter sido uma obra divina. Tremo só de pensar: será que Deus é conivente com o “Capitão”? Não só com o presidente do Brasil e os seus bajuladores, mas também com tantos padres, papas, pastores evangélicos e políticos de um modo geral. Durante as campanhas políticas o nome Dele é usado em quase todas as circunstâncias. Na eleição do Bolsonaro tivemos o mantra: “Deus acima de todos”. Aliás, a trilogia “Deus, Família e Pátria” tem sido usada para tudo desde que o homem tomou consciência de sua estada neste planeta. E infelizmente em nome dessas três “criações humanas” tem-se praticado toda a forma de maldade e de mortes de pessoas.
Com a pandemia da Covid-19 outros questionamentos sobre Deus afloraram. Ele não acabou ainda com esse vírus maldito por que não pode ou por que não quer? Se Ele é onipresente, e por isso está em todos os lugares ao mesmo tempo, por que tantos fiéis se arriscam e teimam em ir à igreja ou ao templo em vez de ficar rezando em casa? Para quem Nele acredita, pode ter a certeza de que “toda casa é um altar de Deus”. O Todo Poderoso deve estar na igreja, no templo e também dentro de qualquer residência. No auge da pandemia no Brasil com cerca de 350 mil mortes e mais de 13 milhões de infectados, a hora agora é de salvar vidas e não de se arriscar indo a ambientes fechados cultuar o inexistente. Foi preciso que o STF interviesse para que os fiéis entendessem o óbvio. O vírus é sinistro! Será que é Deus que está chamando essa gente ao suicídio?
Se os fiéis fossem mais inteligentes, salvavam suas próprias vidas e preservavam suas famílias de forma bem mais simples. Bastariam fazer um Pix, uma TED ou um DOC para a sua Igreja, padre ou pastor e rezavam de casa mesmo sem o risco de contágio dentro de igrejas e templos lotados de gente muitas vezes infectada. A filosofia da religião no Brasil parece ser essa, infelizmente: o padre e o pastor, vacinados. Os templos e igrejas, liberados. Os dízimos e ofertas, já devidamente arrecadados e os fiéis, quase todos eles, entubados ou morrendo nas filas de UTI’s sem vagas. O negacionismo brasileiro tenta imitar o bispo católico Álvaro Ballano durante a gripe espanhola e, cem anos depois, se torna muito pior do que ele, pois não há notícias de cobranças de dízimos nem de “tratamento precoce” para um vírus por parte do religioso espanhol. Deus pode até ser onipresente, mas foi em nome Dele que elegeram os políticos atuais.
*Foi Professor em Porto Velho.