Um conjunto de fatores, que abrange desde o prolongamento do período seco até hábitos culturais de uso do fogo em derrubadas nas áreas de cultivo agrícolas e formação de campos de pastagem, é apontado pela Coordenadoria de Recursos Hídricos da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Coreh/Sedam) como possível responsável pelo aumento em mais de 100% dos focos de calor na zona rural de Rondônia.
Na comparação dos registros de agosto de 2014 com os do mesmo mês de 2015, os satélites detectaram 10.318 focos no ano passado e 25.822 em agosto deste ano. “Com período de estiagem prolongado [mais seco], mais de 60 dias sem chover em determinados locais e a umidade do ar muito baixa, a tendência é o aumento”, disse o meteorologista, Fábio Adriano Monteiro Saraiva.
Ele explicou que a metodologia leva em consideração o cruzamento de dados enviados pelos vários satélites do sistema, com capacidade para ampliação da imagem de um foco de calor em até 30 metros. Há uma tendência das estatísticas apresentarem diferença, quando os resultados são comparados com as estimativas feitas pelas equipes de campo, pois algumas imagens podem conter informações repetidas.
Mas, segundo Fábio Saraiva, é melhor trabalhar com indicadores acima da média, porque isso dá uma margem de segurança para que as equipes de fiscalização entrem em ação. No caso de focos de calor em áreas urbanas, os dados dos satélites têm a leitura dificultada por obstáculos, como prédios altos, por exemplo.
A maior preocupação, no entanto, é quanto ao aumento dos focos de calor na zona rural acima do esperado, ainda no mês de agosto, período anterior ao mês de setembro, época em que, tradicionalmente, há médias históricas de agravamento dos focos de calor e de queimadas na Amazônia.
NOVA ESTRUTURA
Os estudos são analisados pela Coordenadoria de Recursos Hídricos (Coreh), a partir do monitoramento feito na Sala de Situação, que recebeu nova estrutura a partir de uma parceria com o Pró-Gestão da Agência Nacional de Águas (ANA). Com a nova estrutura, a Sedam realiza, por meio da Coreh, o monitoramento hidrológico de clima e de focos de calor, e emite relatórios mensais e diários sobre as bacias dos rios da região, que dão suporte à Defesa Civil e outras instituições parceiras.
A Coreh não divulga previsão climática, mas é responsável pela coordenação de uma Estação Climática Automática, em rede estadual de meteorologia, operada em conjunto com outras estações. “Não é a previsão de tempo, é sobre as condições climáticas”, explicou.
No relatório enviado aos órgãos parceiros, são mencionadas as condições em que estão os níveis dos rios nos quais estão sendo feito o monitoramento, com dados das estações automáticas adquiridas em parceira com a ANA. Da mesma forma, são emitidos relatórios com estudos sobre os focos de calor. “É de posse dessa informação que a equipe de fiscalização vai ao local averiguar e, se for constatado o delito, autua o infrator”, ressaltou.
O acompanhamento dos focos de calor é feito há cinco anos pela Sedam com análise de imagens de satélite a partir do mês de junho. O monitoramento hidrológico é realizado desde 2014, mas com a nova estrutura os produtos ganharam em qualidade.
As Estações Hidrológicas medem a quota dos rios, a vazão e a precipitação também, e foram instaladas no estado em dez pontos, juntamente com outras de entidades parceiras que a Sedam monitora.
A coleta de informações hidrológicas é feita por intermédio dos pontos instalados em localidades, como Ji-Paraná, Guajará-Mirim, Forte Príncipe da Beira, Abunã, Porto Velho e Tabajara (CPRM), e foi concluída recentemente a estação de Cacoal, que está funcionando e deverá entrar no sistema nos próximos dias. A Sedam também pretende instalar mais pontos em Cabixi e outros municípios.
Texto: Abdoral Cardoso