As estatísticas de acidentes de trânsito no Brasil revelam números similares aos de uma guerra. Neste cenário, as vítimas se constituem sério problema socioeconômico com reflexos direto no Sistema Único de Saúde (SUS). É o que revela estudo publicado pelo Departamento de Informática do SUS (Datasus), ligado ao Ministério da Saúde (MS), referente a 2014.
De acordo com dados do setor de estatísticas da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) de Rondônia, pelo menos 4.697 pessoas deram entrada no setor de emergência do Hospital e Pronto-Socorro João Paulo II, em Porto Velho, vítimas de acidentes de trânsito provocados por motocicletas. Os números são do ano passado, e devem ser superados em 2015, caso seja mantida a média mensal superior a 300 ocorrências.
O mesmo estudo aponta que durante 2014, foram 631 pessoas que deram entrada no Pronto-Socorro João Paulo II, vítimas de acidentes de trânsito causados por automóveis, número quase oito vezes menor que os casos envolvendo motocicletas.
Para se ter dimensão do caos provocado pelo trânsito em Porto Velho, em Fortaleza, cidade com 2,5 milhões de habitantes, a 5ª mais populosa do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Datasus aponta que o número de internações hospitalares devido a acidentes com motocicletas saltou de 1.855 em 2010 para 4.735 em 2014, o que representa aumento de 155%.
O mesmo estudo revela, ainda, que cresceu também o número de mortes no trânsito, a perda progressiva da mão de obra, aumento considerável da necessidade de recursos financeiros para a concessão de benefícios por parte do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e, principalmente, o estrangulamento do setor de emergência das unidades hospitalares.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Williames Pimentel, os números chamam atenção para a necessidade urgente de adoção de medidas educativas, implantação de uma fiscalização mais rigorosa e eficiente sobre os usuários de motocicletas, para reduzir o número de condutores que trafegam sob efeito do álcool, drogas e sem habilitação.
Para ele, é preciso ainda estimular e garantir o uso correto do capacete e evitar o excesso de passageiros em motocicletas, como forma de evitar acidentes e superlotar o setor de emergência das unidades de saúde, principalmente o João Paulo II, referência no atendimento de alta complexidade em Rondônia.
ALTO CUSTO
Segundo Williames Pimentel, levantamento feito pelo Ministério da Saúde (MS) sobre internações hospitalares e gastos com tratamento mostra que o Brasil enfrenta uma epidemia de acidentes de trânsito. Em 2011, foram internadas em hospitais da rede pública 153.565 vítimas de acidentes de trânsito, gerando um custo de R$ 200 milhões aos cofres públicos. Esse número é bem maior hoje, considerando o crescimento dos acidentes na maioria das cidades do País, bem como, a dilatação da frota de motocicletas.
No início deste ano, pacientes das alas de ortopedia do Hospital de Base Ary Pinheiro, em Porto Velho, receberam orientações, dicas e palavras de incentivos sobre a importância da vida e a responsabilidade no trânsito. O serviço foi prestado pela Coordenadoria de Educação para o Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RO). A equipe, formada por oito profissionais, percorreu todas as enfermarias. Muitos pacientes se emocionaram com as palavras de carinho.
A ideia do projeto, além de orientar os pacientes sobre a importância da educação no trânsito, tem como objetivo mostrar para a população o reflexo da imprudência no SUS, explicou o diretor-geral do HB, Nilson Paniágua.
O agravante é que, do total das internações, praticamente a metade 48% envolveu motociclistas. Esse índice em Rondônia é bem maior. Para o MS, isso caracteriza uma situação epidêmica, e as causas mais comuns são: direção perigosa e condução das motocicletas por pessoas alcoolizadas.
O Governo do Estado, através da Sesau, busca a conscientização da população sobre os reflexos que os acidentes trazem ao SUS.
Fonte
Texto: Zacarias Pena Verde
Fotos: Ítalo Ricardo