O Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense foi o primeiro superintendente (prefeito) da cidade de Porto Velho entre os já distantes anos de 1915 e 1916. Nomeado pelo então governador do Amazonas, Jônatas de Freitas Pedrosa, esse maranhense de nascimento abriu em definitivo as portas para o desenvolvimento e o progresso na capital dos “destemidos pioneiros”. O Major Guapindaia criou muitas ruas, plantou árvores, saneou parte da cidade, trouxe água encanada para os moradores e também inovou em práticas municipais. Além de ter sido o primeiro administrador, foi sem dúvida nenhuma um dos melhores prefeitos que a capital de Roraima já teve. No entanto, apesar do seu incansável trabalho pela cidade, há algumas poucas críticas que foram feitas a sua administração. Isso talvez fruto da incompreensão que já havia aqui naqueles idos tempos.
Assim que o competente militar tomou posse, as chuvas intermitentes castigavam o recém-instalado município. Era o longínquo mês de janeiro de 1915. As águas putrefatas e fedorentas insistiam em alagar as humildes residências da época. Os bairros distantes da periferia eram os mais afetados. Ali, onde seria a futura Avenida Jorge Teixeira, hoje BR-319, era um caos. No encontro dessa rua com a Sete de Setembro, as águas podres contaminavam a todos. As poucas casas que já havia no local eram alagadas e os pobres moradores perdiam tudo. Móveis, carroças, restos de alimentos e algumas pequenas plantações era tudo arrastado pela forte correnteza que se formava. Havia também alagamentos por toda a extensão do que viria ser a futura capital de um Estado. Onde é hoje o encontro das Avenidas Rio Madeira e Rio de Janeiro o caos era geral. Só aguaceiro!
Ninguém conseguia conter a lagoa que se formava ali. Um igarapé de águas sujas cortava todo o entorno da cidade inundando tudo. O Major Guapindaia até que pretendia fazer rede de esgotos mais extensas, que naquela época chegavam a apenas 2,4 por cento de toda a cidade. Porém, as verbas que o Rio de Janeiro, a capital Federal, dispunha eram poucas. E Manaus praticamente não mandava muitos recursos para melhorar toda a administração municipal. Entre os anos de 1915 e 1916, Porto Velho sofria horrores com as águas da chuva. A cidade praticamente não tinha lugar adequado e definitivo para estacionar as carroças que vinham do interior. Havia duas ou três ruas, mas eram todas tortas e cheias de mato e lixo. Flores, não havia em lugar nenhum daquele sombrio município. Não havia praças, nem recantos de lazer. O porto era um barranco sujo no rio.
A cidade não tinha arborização, não tinha caminhos bons para as carroças transitarem e a violência já era uma constante. Mas apesar desses “pequenos problemas”, o Major Guapindaia era um homem muito amado por todos daqui. A mídia da época lhe adulava e não permitia que lhe fizessem nenhuma crítica e todos os “bons homens”, uma espécie de vereadores de então, assim como as demais autoridades locais, lhe agradeciam por ter sido nomeado para o município. “Esse bom homem foi um enviado de Deus”, costumavam dizer. Ele tinha o apoio de cem por cento desses “vereadores” e detinha uns 85% de aceitação do povo. Até aumentava o IPTU. E todos desconfiavam naquele tempo que o velho major queria mesmo era ser governador e até se eleger senador de uma futura província que poderia ser criada por aqui. “Com tanta aceitação, mesmo que não faça nada de proveitoso na cidade, ele ainda será eleito”, afirmavam todos os seus puxa-sacos.
*Foi professor em Porto Velho