Não é novidade para ninguém que Porto Velho, a insólita capital de Roraima, é uma das piores cidades do mundo para se viver. Na dura e triste realidade do Brasil, a “capital dos destemidos pioneiros” fica nos últimos lugares em qualidade de vida. A novidade agora é que duas das três companhias aéreas do país simplesmente diminuíram seus já escassos voos para esta abandonada e longínqua cidade. A GOL e a Azul, de forma talvez equivocada, alegaram que devido aos muitos processos que estão enfrentando na Justiça local, foram quase que obrigadas a reduzir suas rotas para Rondônia. Claro que não foi isso. O problema é que não há procura. Rondônia só tem pessoas pobres e não há passageiros suficientes para viajar e provavelmente elas não estão faturando o que gostariam. Se houvesse muita procura por passagens elas dariam um jeito para continuar.
Em Porto Velho hoje praticamente não há mais ligação aérea direta com Manaus ou com Rio Branco no Acre. E não há quase nenhuma procura para a compra de passagens aéreas. O mercado local certamente dá muitos prejuízos para essas companhias. Além do mais, o preço do querosene de aviação foi aumentado em mais de 120 por cento no último governo da extrema-direita. O atual governo até já conseguiu diminuir em mais de 30 por cento. Mesmo assim, quase ninguém quer vir para um lugar que nada tem a oferecer aos turistas e visitantes. Além de ser um verdadeiro inferno de tão quente, Porto Velho não tem qualidade de vida, não tem teatros, futebol, não tem água tratada nem esgotos ou saneamento básico. Morar aqui é como viver no inferno. Só vem para cá quem tem negócios ou algum familiar que ainda teima em residir aqui. É muita precariedade, mano!
Para ir a Manaus, por exemplo, muitas pessoas preferem os barcos-recreio pelo rio Madeira. Demora cinco dias, mas a bordo tem comida farta e o sujeito vai dormindo tranquilo numa rede. Isso é que é conforto! Já viajar de avião é um sofrimento só. Eles não servem comida a bordo e o sujeito tem que perder pelo menos uma noite de sono. Diferente da Varig, Vasp ou Transbrasil, que serviam verdadeiros banquetes aos seus passageiros, LATAM, GOL e Azul servem batatinhas desidratadas com meio copo de água. Viajar de avião hoje é passar fome na certa. Ou então comprar um pão de queijo nos aeroportos por mais de 50 reais. Isso sem falar que o maldito pão de queijo, de gosto ruim, amarga mais do que cabacinha e às vezes está impregnado de sal. Nos barcos que vão a Manicoré e a Manaus se come peixe, farinha puba, arroz, feijão e outras guloseimas.
Achar que os políticos estão preocupados com essa caótica situação é outra balela. Político só viaja de graça nesses aviões. Todos eles recebem por mês várias e várias passagens aéreas pagas com o nosso dinheiro. Vereadores, deputados, governadores, senadores e outras autoridades vão querer perder esse privilégio? Ninguém quer resolver o problema, eis a questão. Os poucos usuários de Rondônia e também de outros lugares pobres e atrasados que se virem. Querem ir a Rio Branco? Vão de busão. Tanto a Azul como a GOL e a LATAM ou qualquer outra companhia aérea colocariam vários voos diários saindo de Porto Velho até para o inferno se houvesse alta procura por passagens. Essa é a realidade nua e crua que ninguém quer admitir. Dizer que os passageiros de Rondônia serão punidos só por que buscaram a Justiça para ter os seus direitos garantidos é uma infâmia acintosa, covarde, absurda e vil que em nada ajuda a solucionar o impasse.
*Foi professor em Porto Velho