Mesmo reconhecendo minhas parcas limitações sobre economia, sou adepto da teoria de que opinião sobre tal tema é igual a “bunda”… cada um tem a sua. Não obstante tal vaticínio filosófico, o francês Thomas Piketty, com o best-seller “O Capital no século XXI”, mexeu fortemente na base teórica do capitalismo vivido por nós. É um calhamaço de seiscentas e tantas páginas em que o jovem e brilhante professor esboça uma teoria interessante sobre o processo e concentração da riqueza no mundo. Foi um estudo bastante trabalhoso, a envolver a busca de dados confiáveis de uns vinte países (entre eles o Brasil). Não obstante as boas intenções, a precariedade dos elementos disponíveis desses países do século XVIII para cá, deixa lacunas consideráveis. Ainda assim, de uma maneira geral, e particularmente, os dados à disposição, na França e na Inglaterra, permitiram ao autor conclusões interessantes e perturbadoras.
2. Igualdade onde 67 = 3.500.000.000
Essa lengalenga inicial vem a propósito de uma reportagem lida na semana passada sobre o incrível e assustador dado da distribuição de riqueza pelo planeta. As 67 pessoas mais ricas do mundo possuem a mesma riqueza do que as 3.500.000.000 mais pobres… Metade de todos os seres humanos… uma tragédia em crescimento, cuja responsabilidade cabe às escolhas políticas. Os dados são do monitoramento do Grupo de Bilderberg (um tipo de clube de bilionários), cuja reunião deste ano aconteceu em Copenhague.
3. E a concentração aumenta
Segundo Thomas Piketty, infelizmente, o processo de concentração da riqueza no mundo tende a aumentar (particularmente nos países de regime político conservador, de direita e fraca organização popular). Entre compilações matemáticas complicadas e devaneios característicos dos gênios, o francês chegou a uma fórmula definidora desse processo de concentração: r>g. Onde “r” é o ganho gerado pelo capital em um ano, e “g”, por outro lado, é a taxa de crescimento da chamada economia real (riqueza pelo trabalho). Ou seja, sendo o capital, por escolhas políticas, capaz de gerar mais rendimentos do que a economia real (a situação r>g), quem tem capital tende a acumular mais dindim e de forma mais rápida em relação aos viventes do trabalho de sol a sol. Entendeu a simplicidade do processo?!!! Ao reler a história e um montanha de números, Piketty constatou esse fenômeno acumulador na maior parte dos períodos estudados.
4. Duas décadas de exceção
Ao longo do século XX, tivemos um período em que a equação ficou invertida, ou seja, g>r. Foram os anos compreendidos entre as décadas de 50 e 70. A recuperação americana e a reconstrução da Europa pós-guerra criaram, em muitos locais, condições para que a economia real gerasse mais riqueza do que aquela produzida pelo capital. Foi um período de grandes avanços sociais. Aumentou a distribuição de renda, a educação em todos os níveis melhorou e os índices de violência diminuíram. Pena ter sido um período curto. Incrível as pessoas não se aperceberem onde tudo isso começa e para onde tudo isso vai. A política Neoliberal leva, inevitavelmente, para a diminuição do Estado e a concentração de renda. Não de forma inocente, esse é o caminho ideológico que a grande mídia deste país tem tentado impingir ao povo brasileiro.
5. O cidadão enfraquecido
Há um forte processo de concentração em todos os níveis. Menos empresas produzindo produtos para um número cada vez maior de pessoas. O princípio da concorrência se dilui rapidamente pelo interesse dos donos do mercado. Nas terras tupiniquins, entre os anos de 2002 e 2005 aconteceram, em média, 384 fusões e aquisições empresariais, conforme estudo da Price Waterhouse Coopers. Nos quatro anos seguintes, essa média saltou para 649. Entre 2010 e 2013, o número chegou a 783… Esse processo ceifador da renda e do emprego é mundial e irreversível no modelo dominante. Na década de 50, a França tinha perto de 20 montadoras de automóveis, hoje, possui apenas 2. A superação disso é complexa e passa por escolhas políticas voltadas para o interesse da maioria. Isso é ponto de atrito e de fortes tensões sociais. No entanto, a não compreensão desse processo pela massa é que alimenta o seu inexorável avanço.
É uma vergonha essa concentração de renda. 67 pessoas não podem ter a mesma riqueza do que 3,5 bi.
As pessoas precisam participar mais da política.