Onde foi que nascemos? – Professor Nazareno*

Desde pequenos nos ensinam a gostar inexplicavelmente da terra onde nascemos. Dizem que devemos ser patriotas e amar o torrão natal sob qualquer pretexto. É o tosco sentimento telúrico, uma espécie de imbecilidade muito próxima do Nazismo e do Fascismo, sentimentos que dispensam quaisquer comentários e que levaram o mundo à guerra e à morte sistemática de mais de 60 milhões de pessoas.

Eu, por exemplo, nasci na Paraíba, Nordeste do Brasil, e não tenho o menor amor por aquelas terras secas e áridas. E nunca tive nem tenho inveja de quem tem. Até entendo que existam pessoas que possam gostar daquele lugar, mas não me sinto à vontade quando vejo alguns idiotas mal informadas insinuando que eu devia voltar para lá. Sem nenhum orgulho, Deus me livre de tal castigo. Ninguém merece tal desventura. Buscar o quê?

Por que devemos gostar do lugar onde nos deram a luz? Ninguém explica, apenas afirma-se que devíamos gostar e pronto. E quem não seguir esta regra absurda e estúpida é criticado, censurado, pisoteado e massacrado pelo senso comum. Há quase quatro décadas, por exemplo, moro em Rondônia e Porto Velho. E ainda não aprendi a gostar daqui. Para isso acontecer, acho que se deve morar pelo menos uns mil anos num lugar e como não se vive tanto tempo… Dizer por aí que nasceu em Porto Velho e é rondoniense, vai passar vexame na certa.

Já pensou o sujeito na rica e desenvolvida Europa ou mesmo na civilizada Serra Gaúcha dizer que é de Rondônia? É melhor esconder o triste fato. Que razões um indivíduo pode justificar para gostar de um lugar tão desprezível, sujo, longe, mal administrado e tão atrasado? Seria o calor infernal?

“O povo”, talvez a desculpa esfarrapada para se ter amor a esta terra seja o povo. Talvez não exista em nenhum outro lugar do mundo um povo como o daqui. Que outros cidadãos teriam o perfil dos rondonienses para eleger, por exemplo, os políticos que elegemos? Que outro povo se acostumou a ter tantas desgraças sem reclamar de nada? O povo de Porto Velho se acostumou a ter migalhas e a viver de migalhas. Os viadutos estão pela metade e sem data para serem terminados. O Espaço Alternativo está também inacabado, a ponte está escura, a rodoviária nova nunca será construída, o aeroporto jamais será internacional, água tratada e saneamento básico nunca serão realidade, as ruas estão esburacadas e imundas, não temos hospital de pronto socorro e os nossos políticos, para combinar com o caos, são “meias” autoridades. Alguns deles, nem isso.

E ninguém reclama de nada. Elegemos essa gente e parecemos satisfeitos e acomodados. Aceitamos tudo sem dar um pio. “Mas aqui tem muito emprego e se ganha bastante dinheiro”, podem argumentar os mais otimistas e desinformados. Ora, com competência, honestidade e coragem, trabalha-se e se ganha dinheiro em qualquer lugar do mundo. A terra não dá nada a ninguém, só o trabalho, às vezes, dá. O máximo que ela pode fazer pelo sujeito é devorá-lo depois de morto e nada mais. Nascemos na cama, na rede, no chão, não importa. O conceito de nação, pátria, Estado dentre outras besteiras é pura tolice, é invenção para enganar otários. Eu não gosto de Rondônia porque não gosto da Paraíba nem do Brasil. Mas se morasse num lugar civilizado eu iria gostar de lá? Talvez sim, talvez não. Não somos exclusividade de lugar nenhum. Somos todos cidadãos do mundo. Mas tente dizer isso a um estúpido que adora o hino nacional.

*É Professor em Porto Velho

Comments (1)
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  • FABIO MESTRUZ

    Vamos continuar votanto em CARLINHOS CAMURÇA , ROBERTO SOBRINHO e MAURO NAZIFF, so ai já tamos caminhanto pra DEZOITO NOS E MEIO DE ATRASO E CORRUPÇÃO, e como nesse pais niguem vai pra cadeia e fica por isso mesmo e ainda não bater no peito dizento que fizeram isso e aquilo nas próximas camanhas….. isto é Brasil…..