Ao lado da mãe, Auricélia Soares de Abreu, Vitória, 9 anos, terceiro ano escolar, não desviou o olhar do grupo pioneiro de alunos do Complexo Esportivo do projeto social Voar, entregue na manhã desta segunda-feira (9) pelo governador Marcos Rocha, na Avenida Amazonas, bairro Escola de Polícia, zona leste de Porto Velho. “Eu quero fazer natação natação”, disse a menina.
“Venho com muito gosto trazer a Glena, três vezes por semana, e quando não puder o pai vem com ela”, disse Auricélia. A família mora no bairro Lagoinha. Glenda, 10, faz jiu-jitsu.
O complexo para artes marciais, natação e futebol de campo, foi construído em oito meses e dentro dos 7,5 mil metros quadrados para onde se transferiu a nova base do Núcleo de Operações Aéreas (NOA) da Polícia Militar de Rondônia, os alunos na faixa etária de 9 a 15 anos de idade também terão noções de disciplina e cidadania.
As obras custaram R$ 2,5 milhões obtidos pela Justiça do Trabalho com a cobrança de multas ambientais. O estado nada gastou, mas idealizou o projeto.
Quele Pereira, mãe de cinco filhos, do bairro Orgulho do Madeira, matriculou Guilherme, 14, no futebol, às segundas, quartas e sextas-feiras. Tem mais quatro filhos e reconhece a qualidade do projeto: “Esta escola é um lugar bom, seguro e moderno”.
As duas mães elogiaram o projeto, especialmente pelo fornecimento de uniforme e por ser gratuito. “Quem tem dinheiro para pagar academia?”, indagou Auricélia. Quando soube das inscrições, foi rapidamente à direção da Escola de Ensino Fundamental Bom Princípio, obtendo a documentação da filha Glena.
Perfiladas, as crianças entraram ao hangar do NOA ao som de marcha da Banda Musical da PM.
Inicialmente, o projeto Voar dispunha de 215 vagas, mas acrescentou outras 15, somando 230, informou o ex-chefe do NOA e atual superintendente Estadual de Orçamento e Gastos Públicos, coronel Carlos Lopes Silva. “Dois anos atrás, já vislumbrávamos a importância desse projeto na vida das crianças; a prática de esportes os afasta da ociosidade”.
Emocionado, ele próprio disse que não falaria, porém, dirigiu-se às crianças narrando um momento de sua vida no Rio de Janeiro, onde participou de semelhante projeto no Maracanã, cuja mensalidade pagava sozinho.
“Minha família era pobre, eu nunca havia entrado numa piscina, foi a primeira vez”, contou coronel Lopes.
Em seguida, lamentou ter perdido amigos para o tráfico de drogas, amigos que não chegaram a estudar. “Não cheguei a ser atleta, mas vocês, se quiserem, têm essa condição, por isso se dediquem bem”, aconselhou.
O coronel disse que o complexo esportivo é “um presente do governo do estado à zona leste”, e elogiou o trabalho da 4ª Vara da Justiça do Trabalho, atribuindo-lhe a missão de “construir uma obra com muito amor e dedicação”.
“Uns plantam, outros regam, mas quem dá o presente é Deus”, disse também emocionada a juíza titular Marlene Alves de Oliveira.
A história do coronel Lopes coincide com a do governador, coronel Marcos Rocha, que saiu da tribuna para se posicionar em frente às crianças, onde lhes relatou um pouco de sua vida de menino “num lugar bastante turbulento”.
“Minha mãe era costureira e o meu pai padeiro; ela faleceu aos 38 anos de idade, eu tinha 12, mas os seis irmãos da família se ajudavam, estudaram, nossa vida mudou para melhor”, contou Marcos Rocha.
O governador lembrou ainda que a solidariedade familiar permitiu a todos “a divisão do bife com ovo, às vezes frango, num mexido feito por uma avó”.
“Eu sei de onde eu vim, sou grato a católicos e evangélicos que nos ajudaram quando minha mãe se foi, com rins paralisados, deixando o último pedido: que os maiores tomassem conta da casa”.
O coronel transmitiu segurança aos alunos do projeto, incentivando-os ao “caminho do bem”. Permitiu-se ainda a contar-lhes outro fato: ao perder a mãe, alguns amigos o convidaram para furtar tênis e bicicletas, e até droga lhe ofereceram.
Para o secretário estadual de Segurança, coronel José Hélio Cysneiros Pachá, nessa área hoje é possível pensar não apenas em viaturas, mas na formação de pessoas. “Essas crianças servirão de exemplo para outras em Porto Velho, porque aqui terão um modelo de comportamento com solidariedade”. Aos professores, ele pediu paciência ao formular e aplicar esse modelo de valor.
“Hoje é um dos dias mais felizes do NOA”, disse brevemente o chefe desse núcleo, coronel Evanilso Calixto Ferreira. “O governo traz de volta as operações aéreas, e as autoridades da 4ª Vara da Justiça do Trabalho são pessoas que não se contentam em fazer o básico, vão além; a isso se chama responsabilidade social”.
Montezuma Cruz/secom