Anunciado com o objetivo de economizar os custos com a impressão, não há previsão de quanto custará a aplicação da prova do modelo digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — que substituirá a versão em papel até o ano de 2026. Questionado pela reportagem de VEJA, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, não informou o valor previsto e afirmou que as “informações internas não podem ser divulgadas”.
“A equipe técnica do Inep, com mais de 20 especialistas, realizou diversas reuniões para analisar a viabilidade e as possibilidades de processo para a implantação do Enem digital. Como a empresa aplicadora será selecionada, essas informações internas não podem ser divulgadas para que não ocorra qualquer favorecimento”, sinalizou a assessoria de imprensa do Inep em resposta a VEJA.
Na última quarta-feira, 3, quando foi anunciado o “Enem Digital”, um dos principais objetivos apontados para motivar a mudança foi a economia com a impressão. Entretanto, nem o atual presidente do Inep Alexandre Lopes nem o ministro da Educação, Abraham Weintraub, entraram em valores futuros do novo modelo de aplicação. O instituto divulgou que, na edição de 2019 da prova, os custos superaram 500 milhões de reais.
O modelo de aplicação digital da prova será semelhante ao Enem regular: o Inep é o responsável por contratar uma empresa aplicadora, que disponibilizará a infraestrutura necessária para a realização do exame em unidades de ensino. O governo informa que não comprará equipamentos — a parte estrutural fica por conta dessas empresas. “A expectativa do Inep é de que o Enem Digital seja um incentivo para ampliar o número de computadores conectados nas redes de ensino de todo país”, informa o instituto.
Mesmo considerando o caminho positivo, o diretor de políticas educacionais da organização Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, considera que a estratégia precisa ser “muito bem construída” para que consiga superar “os entraves de infraestrutura no país”. O especialista afirma ainda que não se pode “só olhar a ótica da economia de passar do papel para o digital”.
Segundo Nogueira Filho, a aplicação da prova precisa ser feita de uma maneira mais sofisticada, “fugindo de um processo de simples digitalização”. Caso a primeira opção seja escolhida, ele lembra que a sua viabilização “dependerá de muitos investimentos em tecnologia e montagem de um grande banco de questões. O custo relacionado a isso não é baixo, mas é fundamental.”
De acordo com o Censo Escolar 2018, que é feito pelo próprio instituto, 30,1% das escolas de ensino fundamental do país não têm banda larga disponível. Dentro desse número, as redes de ensino municipal apontam o maior déficit: 56,7%. Já as escolas de ensino médio apresentam maior disponibilidade de banda larga, com 15,1% do total sem a infraestrutura para a internet.
“Enem Digital”
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será aplicado apenas em formato digital no ano de 2026, quando será abandonada a versão em papel. A novidade começará a ser implementada em 2020 e a digitalização será gradativa. No próximo ano, estudantes de quinze capitais do país terão a opção de realizar 50 mil provas digitais em dois domingos consecutivos em outubro. Não há alterações na realização do Enem 2019.
De acordo com o calendário, em 2020 o Enem terá duas aplicações: a digital, nos dias 11 e 18 de outubro, e a regular, nos dias 1º e 8 de novembro. Uma reaplicação, em papel, acontecerá em dezembro para os estudantes prejudicados por problemas logísticos com a versão digital. Os resultados serão divulgados de forma conjunta.
Já em 2021, serão feitas duas aplicações digitais em datas distintas, também opcionais, como forma de aprimoramento do ano anterior. Será mantida a aplicação regular e a reaplicação em papel. Entre 2022 e 2025, segundo o Inep, o “Enem Digital” será aprimorado, ainda de forma opcional aos participantes. Em 2026, no entanto, a previsão é que não haja mais prova em papel e que o Enem aconteça em várias datas ao longo do ano.
por Veja