Indústria da construção sofre com paralisação de obras; usinas de Rondônia são exemplos

 

A conclusão ou a paralisação de grandes obras de infraestrutura vêm provocando estragos na cadeia de supridores de máquinas e insumos para a construção civil.

O segmento mais prejudicado até agora, de máquinas de construção pesada, prevê queda de 50% nas vendas neste ano. Cimento, aços longos e tintas veem retração entre 5% e 12%.

A crise pega as empresas após quase uma década de investimentos em expansão de capacidade.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o cenário não tem perspectiva de melhora no médio prazo.

“O ciclo de grandes obras no Brasil acabou. Até 2018, teremos um período caracterizado por baixos investimentos em infraestrutura e construção pesada”, afirma Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral.

Em novembro, com o enchimento do reservatório da usina hidrelétrica de Belo Monte (Pará), encerrou-se a fase de construção pesada da maior obra em curso no país.

Antes, já tinham sido desmobilizados os canteiros das usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (Rondônia), e da refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, em Pernambuco.

Angra 3 e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) estão paralisados em decorrência da Lava Jato. Duas refinarias da Petrobras foram canceladas.

VOLTA A 2009

Nos quatro setores analisados pela Folha, as perspectivas de vendas em 2015 equivalem a níveis de 2009, ano impactado pela crise financeira internacional. A estatística de estoque de emprego em grandes obras segue a mesma tendência.

“A grande preocupação é que não há obra nova começando”, afirma o presidente da BMC Hyundai no Brasil, Felipe Cavalieri.

A companhia inaugurou em 2013 uma fábrica em Itatiaia (RJ) com capacidade para produzir, por ano, 3.000 unidades de máquinas para construção pesada –da chamada linha amarela: escavadeiras, pás carregadeiras.

Espera fechar 2015 com a venda de apenas mil unidades. Os planos de expansão foram engavetados.

Outro termômetro do setor é o cimento, que também sofre impacto da crise. Devido ao cenário econômico, a Votorantim Cimentos, por exemplo, suspendeu a produção em sua fábrica de Ribeirão Grande (SP) e transformou o local em um centro de distribuição temporário.

“O setor fechará este ano com uma ociosidade muito grande por causa da falta de novas obras”, afirma o presidente do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), José Otávio Carvalho. A expectativa é que haja queda de 10% nas vendas.

De acordo com IBGE, o PIB da construção civil encolheu 6,3%, e o investimento, indicador que inclui grandes obras, caiu 15% no terceiro trimestre.

“A construção tem grande potencial de arraste, carregando consigo uma enorme cadeia de fornecedores”, diz o economista da FGV Cláudio Fristchtak. De acordo com ele, cada R$ 1 milhão investido na construção civil gera R$ 1,6 milhão em encomendas de bens e serviços.

RIO-2016 É ALÍVIO COM DATA CERTA PARA TERMINAR

Para Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral, o ciclo que se encerra tinha como protagonista o setor público, na condução das obras e no financiamento via BNDES.

A crise fiscal, afirma, coloca sob a responsabilidade da iniciativa privada levar adiante novos investimentos em infraestrutura.

Porém, a recessão, aliada à crise política e à Lava Jato, deixa o cenário ainda mais incerto. “A perspectiva não é favorável ao surgimento, no médio prazo, de novos players para tocar obras pesadas”, disse.

As obras para a Olimpíada do Rio têm contribuído para minimizar a crise, dizem empresários do setor. Mas a desmobilização também está no horizonte, uma vez que a entrega da maioria dos projetos deve ocorrer no início de 2016.

Há, na cidade, desde grandes obras civis, como a construção do parque olímpico, até projetos de infraestrutura viária, como os sistemas de BRT (corredores de ônibus) e de VLT (veículo leve sobre trilhos).

“O Rio é o grande canteiro de obras do Brasil”, diz Eurimílson Daniel, diretor da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração.

“Como vão ficar as obras e os empregos em 2016, quando o Rio estiver pronto?”, questiona o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, José Otávio Carvalho.

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