Hidrelétricas em Rondônia e Pará agravaram crise sócio-ambiental, afirma estudo

Estudo revela impactos devastadores em Rondônia e Pará com aumento da violência, desmatamento, colapso da pesca e alta na conta de energia

A construção das hidrelétricas de Belo Monte, no Pará, e Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, trouxe promessas de desenvolvimento, mas o saldo final tem sido um desastre socioambiental. É o que aponta o estudo intitulado “Depois das Hidrelétricas: Processos sociais e ambientais que ocorrem depois da construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio na Amazônia Brasileira”. A pesquisa, coordenada pelo professor Emilio Moran, da Universidade Estadual de Michigan (EUA) e da Unicamp, foi iniciada em 2013 e revela um quadro de colapso agrícola e pesqueiro, aumento da violência e até energia elétrica mais cara para as populações locais.

De acordo com Moran, houve uma mudança expressiva no uso do solo nas bacias dos rios Madeira e Xingu, onde estão localizadas as hidrelétricas. “A área florestal foi reduzida com o avanço dos pastos, e a produção pesqueira despencou, com 30% das espécies desaparecendo”, relatou o pesquisador. “Nunca mais se viram os bagres de 100 quilos”, acrescenta. A agricultura também sofreu com a retirada das várzeas, fundamentais para a produção. “Foi a transformação forçada de uma cultura e uma economia. Para muito pior”, afirma Moran.

Além dos impactos diretos na biodiversidade, a violência e a insegurança alimentar aumentaram nas áreas afetadas pelos projetos hidrelétricos. Em Altamira, no Pará, cidade próxima à usina de Belo Monte, os reassentamentos urbanos criados para abrigar as famílias que perderam suas terras sofrem com a precariedade dos serviços básicos. A falta de abastecimento de água, por exemplo, leva ao uso de caminhões-pipa. “Dá para imaginar uma população que tinha uma relação próxima com o rio, numa espécie de mundo aquático, depender de caminhão-pipa?”, questiona Moran. Cerca de 69% dos responsáveis por domicílios na cidade afirmaram enfrentar insegurança alimentar.

O estudo aponta ainda que o fenômeno de explosão populacional, observado na construção da rodovia Transamazônica nos anos 1970, repetiu-se com Belo Monte. Em apenas dois anos, a população de Altamira passou de 75 mil para 150 mil habitantes, provocando graves problemas sociais. Moran destaca que esse aumento populacional e seus efeitos também foram observados em Rondônia, nas regiões afetadas pelas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. “Queríamos investigar se os mesmos problemas de Belo Monte também ocorreram em Jirau e Santo Antônio, e a resposta é sim”, afirmou o coordenador do estudo.

Segundo ele, a área inundada nas proximidades de Porto Velho, onde estão localizadas as duas usinas no rio Madeira, foi o dobro do previsto. “Não houve preparação nem planejamento adequado”, diz Moran. Os bairros criados para abrigar as populações reassentadas em Porto Velho apresentam diversos problemas estruturais, enquanto as promessas de criação de cooperativas para o fomento econômico das comunidades ribeirinhas não foram cumpridas. Outro agravante é o aumento no preço da energia elétrica, que também afeta a população local. Em Porto Velho, a energia, a água e a terra se tornaram menos acessíveis.

O estudo revela ainda que, apesar de o principal argumento para a construção das usinas ser o aumento da oferta de energia para o país, a realidade é outra. Embora Belo Monte tenha uma capacidade instalada de 11 GW, a energia comercializada é de apenas 4 GW. Moran explica que, com a seca na Amazônia, a produção da hidrelétrica fica praticamente paralisada. Além disso, o aumento nos custos de energia para as populações locais é significativo. Enquanto uma família em São Paulo paga cerca de R$ 300 por mês de luz, em Altamira esse valor chega a R$ 1.500.

O estudo, que incluiu dados coletados ao longo de anos de monitoramento, alerta para os efeitos duradouros dessas grandes obras de infraestrutura na Amazônia, especialmente em estados como Rondônia e Pará, onde a degradação ambiental e os impactos sociais são sentidos de forma mais intensa. O caso de Jirau e Santo Antônio, menos coberto pela mídia brasileira, revela que a história se repete: promessas de desenvolvimento, mas resultados devastadores para as comunidades locais e o meio ambiente.

 

Via Rondoniadinamica

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