O governador de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), está prestes a concretizar a compra de um hospital particular para substituir o Pronto-Socorro João Paulo II, em Porto Velho, uma das unidades de saúde mais sobrecarregadas do estado. Na última segunda-feira (24), Rocha anunciou publicamente que havia desistido da aquisição, alegando que os preços estavam “altos demais”. No entanto, informações exclusivas de bastidores obtidas pelo Painel Político revelam que a declaração foi apenas um “jogo de cena” para evitar que os valores cobrados pelos hospitais subissem ainda mais.
De acordo com fontes próximas ao governo, a compra está sim em andamento, e o valor estimado da transação deve ficar entre R$ 60 e R$ 65 milhões. Dois hospitais estão na mira das negociações: o 9 de Julho, que já foi cotado por mais de R$ 100 milhões, e o Prontocordis, conhecido como Hospital do Coração de Rondônia. A estratégia de Rocha, segundo os bastidores, é garantir um preço justo em meio às tratativas, que estão sendo conduzidas pelo procurador Thiago Denger, nomeado presidente da comissão especial criada para avaliar e negociar a aquisição.
A aquisição de uma unidade hospitalar privada é vista como uma solução emergencial para desafogar o João Paulo II, que há décadas opera além de sua capacidade, enquanto o projeto do novo Hospital de Emergência e Urgência de Rondônia (Heuro) segue enfrentando entraves. A decisão de Rocha reflete a urgência em oferecer melhores condições de atendimento à população rondoniense, que há anos convive com o drama da superlotação e da infraestrutura precária no pronto-socorro da capital.
Histórico do Drama no João Paulo II: Uma Crise que se Arrastra por Décadas
Inaugurado em 1984 para atender funcionários da Eletronorte durante a construção da Usina Hidrelétrica de Samuel, o Hospital e Pronto-Socorro João Paulo II, em Porto Velho, nunca foi projetado para suportar a demanda atual. Com mais de 40 anos de funcionamento, a unidade, que hoje conta com apenas 195 leitos (sendo 45 de UTI), registra uma média de 2.914 atendimentos mensais, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). A estrutura envelhecida, com telhados antigos e infiltrações frequentes, já não comporta o volume de pacientes, especialmente os casos de traumas ortopédicos decorrentes de acidentes de trânsito, que representam a maior parte das internações.
Ao longo dos anos, o João Paulo II tornou-se símbolo de uma crise crônica na saúde pública de Rondônia. Antes da gestão de Marcos Rocha, cenas de pacientes sendo atendidos no chão e nos corredores eram comuns, refletindo a superlotação e a falta de estrutura. Em 2019, logo após assumir o governo, Rocha determinou uma força-tarefa para esvaziar os corredores, uma medida que trouxe alívio temporário. No entanto, a pandemia de Covid-19 agravou a situação, desviando recursos e leitos de outros hospitais de retaguarda, como o Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, para o atendimento exclusivo de casos da doença.
A promessa de substituir o João Paulo II não é nova. Desde 2019, o governo estadual planeja a construção do Heuro, que contaria com 399 leitos, 10 salas cirúrgicas e 60 UTIs. O projeto, no entanto, acumula uma década de problemas, incluindo paralisações, investigações e prejuízos milionários aos cofres públicos. Em 2024, o contrato com o consórcio responsável pela obra foi cancelado, forçando o governo a buscar alternativas imediatas, como a compra de um hospital já existente.
Durante a pandemia, Marcos Rocha já havia optado por uma solução semelhante ao adquirir o Hospital Regina Pacis por R$ 12 milhões, uma medida que, apesar das críticas iniciais, foi posteriormente validada pelo Ministério Público, que arquivou ações contra a compra. Agora, a estratégia se repete, com o objetivo de oferecer uma resposta rápida à população enquanto o Heuro não sai do papel.
Negociações em Curso: O Papel de Thiago Denger e os Próximos Passos
Presidindo a comissão criada em março de 2025 para avaliar a compra do hospital, o procurador Thiago Denger lidera as negociações com as unidades candidatas. O 9 de Julho, que entrou no mercado há cerca de um mês com um valor inicial superior a R$ 100 milhões, e o Prontocordis, com sua estrutura moderna de 64 leitos e 12 UTIs, são os principais alvos. A escolha final dependerá de fatores como custo, localização e capacidade de adaptação às necessidades do sistema público de saúde.
A Sesau, sob o comando do secretário Jefferson Rocha, já confirmou estudos para a desativação gradual do João Paulo II após a aquisição, com o novo hospital assumindo as funções de urgência e emergência. Enquanto isso, o Hospital de Retaguarda de Rondônia, comprado durante a pandemia, deve passar a atender casos clínicos, complementando a rede estadual.
O anúncio de Marcos Rocha na segunda-feira, interpretado inicialmente como um recuo, agora é visto como uma tática para pressionar os vendedores a reduzirem suas exigências. “Ele dobrou a aposta e quer resolver isso ainda este ano”, afirma uma fonte ligada ao governo, reforçando a exclusividade antecipada pelo Painel Político em fevereiro de 2025. Resta saber se o desfecho das negociações trará, de fato, alívio ao caos na saúde pública de Porto Velho.