Por Tiago Domecini, Agência Pública
Vídeo obtido pela Agência Pública e o depoimento de uma fonte mostra um ônibus de passageiros na região de Vilhena, município de Rondônia, sendo obrigado a parar em um bloqueio que pede intervenção militar por não aceitarem a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo a lei 14.197/2021, atentar contra as instituições democráticas é crime e pode levar de 4 a 12 anos de reclusão.
Luiz Henrique Fernandes Junior, enfermeiro, contou à Agência Pública que, ainda dentro do ônibus, ao cruzar o município de Vilhena na BR-364, em Rondônia, seu ônibus foi parado no início da tarde. “Pararam o ônibus e obrigaram todos os passageiros a assinar uma petição pedindo “intervenção federal”. Segundo ele, “Se não assinássemos não poderíamos passar com o ônibus”.
Vídeo obtido pela reportagem da Pública mostra coação de passageiros, o que é crime
No vídeo gravado por ele, um homem não identificado diz: “Quem foi que não quis assinar, aí?”. Diante da negativa de um casal, ele responde: “Então o ônibus vai ficar seis horas fechado, tá?”. Alguém diz: “Não, aí vocês estão coagindo todo mundo”. É possível ouvir o choro de algumas crianças que estão no veículo. “Ficamos algumas horas parados até eles liberarem a gente”, afirma Luiz.
No momento da coação haviam 35 passageiros, alguns adultos, crianças e idosos. Na sequência, perguntaram o nome de uma mulher, também não identificada, que ajudou a coagir os passageiros dizendo que o que ela estava fazendo era um crime. Ela respondeu: “Meu nome é povo”. O enfermeiro ainda questiona a mulher: “Ridículo isso que você está fazendo”. Ela responde: “Ridículo o que você está fazendo”. Ele retruca: “O que eu estou fazendo? Eu não tô fechando BR, impedindo as pessoas de passarem, tô querendo ir trabalhar, minha querida”.
“Eles diziam como argumento sobre a intervenção federal que eles já tinham provas de que houve fraude no primeiro turno”, conta Luiz. Outro rapaz, também não identificado, fala no vídeo: “era pro Bolsonaro ter ganhado já no primeiro turno, aquilo foi fraude. No segundo turno agora o exército não teve acesso as urnas”.
Luiz conta ainda que pediram CPF, RG, e nome completo de todos. Eram três homens e uma mulher no comando, ele diz. Ainda segundo Luiz, a Polícia Rodoviária Federal, que apareceu durante a paralisação do ônibus, nada fez para ajudá-los.
Segundo o enfermeiro, só depois de obrigarem todos os passageiros a assinar a “petição” é que liberaram o ônibus. “Alguns chegaram a mostrar armas que estavam na cintura, insinuando uma ameaça”, diz Luiz, que assinou o documento com nome, CPF e RG errados. “Muitos fizeram isso”. Mas para alguns, no entanto, “eles estavam pedindo o próprio documento para confirmar a informação da “petição” que não tem nenhum valor legal.