Porto Velho, RO – Faltam poucos dias para a “explosão da cultura” em Porto Velho, Roraima. Todo sábado de Carnaval à tarde, religiosamente, a Banda do Vai Quem Quer desfila pelas sujas e imundas ruas da capital da seboseira. Desde o já longínquo ano de 1980, essa espécie de agremiação carnavalesca já tem um encontro marcado com os foliões. Mais de 150 mil pessoas em números atualizados devem desfilar. Essa quantidade de gente é quase metade de toda a população da “capital das sentinelas avançadas”. O delírio toma conta dos “bobos da corte”. Extasiados, alegres, eufóricos, com a cabeça cheia de cachaça barata e vinho de baixa qualidade, eles esquecem por um momento suas miseráveis vidas para se lançarem à brincadeira momesca. Este ano, no entanto, a BVQQ se modernizou e vai levar drones à avenida no intuito de contar os foliões e assim lhes dar mais segurança.
Não se sabe em outros lugares mais civilizados, mas em Porto Velho quando vários pinguços correm bêbados atrás de um carro de som tocando músicas carnavalescas isso se chama estranhamente de cultura. Outra coisa: a Banda do Vai Quem Quer não suja as ruas da cidade. Ela só emporcalha ainda mais o que já é sórdido e nojento. No domingo pela manhã, após o desfile, muitas toneladas de sujeira podem ser vistas nas ruas por onde os brincantes passaram. É só imundície “adornando” o que já era promíscuo e seboso. O chão fica repleto de garrafas de bebidas vazias, de preservativos usados, cacos de vidro, muito papel molhado, sacos de plástico, restos de bebidas escorrendo e toda sorte de lodo e carniça. Não se vê por ali nenhuma caçamba para a recolha da podridão produzida pela famosa banda e por seus adeptos. E a prefeitura manda limpar depois as fezes e os dejetos.
Mas mesmo que tivessem essas lixeiras onde se coloca o lixo para não sujarem tanto as ruas, de pouco elas adiantariam, pois a educação da maioria dos brincantes é coisa rara em Porto Velho. Aqui, muitos moradores não têm educação suficiente para conservar sua própria cidade. Esses drones deveriam fiscalizar todas as pessoas que estão ali na avenida. Todo lixo devia ser colocado no lixo e não jogado no meio da rua. Infelizmente, o pensamento da maioria é “se não tiver nada de lixo pelo meio das ruas, os garis ficarão desempregados”. Por isso, “é muito importante sujar tudo para os órgãos públicos limparem depois”. Há no Espaço Alternativo uma “caixa” instalada para recolher o lixo já selecionado. Se essa ideia for realmente aprovada, em breve deveríamos ter várias dessas espalhadas pelas ruas para tentar mudar o visual carnicento da porca e suja cidade.
Apesar de ser uma festa dantesca, o Carnaval porto-velhense tem o dom de “unir” num mesmo ambiente os governantes e os governados. Une também a Casa Grande e a Senzala, que se confraternizam como se Porto Velho e Rondônia fossem um paraíso com coelhinhos saltitantes e borboletas azuis. Com menos de três por cento de saneamento básico e apenas uns 30 por cento de água encanada, a cidade deveria ter mais ideias para tentar resolver esse caos, já que nenhum prefeito em mais de cem anos nunca conseguiu tal proeza. Como de costume, eu não vou à Banda do Vai Quem Quer. A dengue está se alastrando como nunca em nossa cidade e a Covid-19 voltou a dar as caras. As infecções já aumentam como se fosse uma nova pandemia. Aqui não há o que se comemorar. Por isso, é bem melhor evitar que a desgraça piore ainda mais. A banda se moderniza, mas a mentalidade continua a mesma. Custava conscientizar os seus foliões a não sujarem tanto?
*Foi professor em Porto Velho