Este ano de 2024 haverá eleições no Brasil. E isso é muito bom, pois em uma democracia essa prática é uma doce rotina. Só não entendo porque ao contrário das principais democracias do mundo por aqui o cidadão é obrigado a ir às urnas, mesmo sem querer. Segundo Aristóteles, a política é a mais importante ciência da sociedade. Por isso, votar e ser votado é algo salutar e até prazeroso. Se não houvesse eleições, seríamos uma ditadura cruel e sanguinária como foi a Ditadura Militar instalada em 1964 com a ajuda e a conivência da elite fascista do país, quando os fuzis e as baionetas ditavam as regras. Sem democracia, por exemplo, Bolsonaro e a sua turma de aloprados terraplanistas e negacionistas teriam anulado as últimas eleições e na maior cara de pau poderiam ter dado um golpe e tomado o poder. Porém, as nossas instituições impediram essa violência tosca.
Agora as eleições serão só nos municípios. Vamos escolher os novos prefeitos e vereadores das nossas cidades. Mas o pleito continua equivocadamente polarizado. De um lado, a turma da extrema-direita com as suas ideias ultrapassadas e seu projeto de poder sem democracia. É a terra plana, negação às vacinas e à ciência, pena de morte, ausência total de direitos humanos, garimpo ilegal, BR-319, Neoliberalismo, destruição das florestas, ataques ao meio ambiente, demonização do comunismo, privatizações, exaltação a Israel, dentre outras tolices. Do outro lado estão os partidos de esquerda com sua agenda também ultrapassada e com propósitos de fazer o poder público sempre dar esmolas e benesses ao cidadão comum, a vítima da sociedade. Votar num ambiente desses é corroborar e aceitar as sandices discutidas em rede nacional. Um escárnio à inteligência.
Se na realidade nacional não há bons motivos que nos façam ir às urnas, imagine-se em Porto Velho, a eterna capital de Roraima. Aqui a classe política é uma das piores do mundo. Acredita-se que uns 80 por cento desses políticos não servem para nada. Já os outros 20 por cento para nada servem. São vacas de presépio colocados lá pelo povão que entra ano e sai ano sofre feito sovaco de aleijado. Porto Velho não tem sequer um hospital de pronto-socorro, embora as promessas mentirosas de se construir um sejam diárias. Cadê o “Built to Suit” que seria construído pelo Estado? O pobre
eleitor da “capital das sentinelas avançadas” tem mais é que se conformar com o velho “açougue” lá da zona sul. Por que a prefeitura do município não tentou construir um pronto-socorro decente para os seus eleitores pobres? Por que os vereadores e os políticos nada dizem ou falam?
Eu, como eleitor, não tenho nenhum incentivo para ir votar nessa gente que nada fez nem faz em benefício dos que mais necessitam. O porto rampeado da cidade continua parado enferrujando vergonhosamente lá na beira do rio Madeira. A Praça da E.F.M.M, por exemplo, foi abandonada pela prefeitura sem nenhuma desculpa ao tolo cidadão que paga impostos. A atual crise aérea é uma miséria sem fim para todos nós. E as autoridades se calam. A falta de água tratada, de saneamento básico, arborização, ônibus urbanos e esgotos é uma desgraça que sempre nos acompanhou e que nenhum prefeito ou vereador daqui consegue resolver. Ou não conseguem ou não querem. E a política serve exatamente para que essas demandas sejam resolvidas ou amenizadas pelos que são eleitos a cada quatro anos. Não entendo: por que somos obrigados a votar se não temos respostas para todos esses problemas? E enquanto parte da mídia endeusar esses políticos, nada mudará.
*Foi Professor em Porto Velho.