Porto Velho, RO – Dois anos após os atos de 8 de janeiro de 2023, que abalaram a democracia brasileira com a invasão e destruição das sedes dos Três Poderes, os três senadores de Rondônia apresentaram posicionamentos públicos que espelham não apenas suas convicções políticas, mas também o tom do debate ideológico que se aproxima das eleições de 2026. Jaime Bagattoli (PL), Marcos Rogério (PL) e Confúcio Moura (MDB) manifestaram visões contrastantes que refletem o espectro político nacional, da extrema direita ao centro moderado.
Jaime Bagattoli destacou, em tom combativo, sua preocupação com possíveis injustiças no tratamento judicial dado a manifestantes. Ao citar o caso de Ezequiel, um trabalhador de Rondônia condenado a 14 anos de prisão, Bagattoli criticou o que chamou de “falta de espaço para parlamentares expressarem preocupações” e apelou ao ministro Alexandre de Moraes para revisões judiciais. Para Bagattoli, “quem causou prejuízos deve ser punido, mas sem penas desproporcionais.”
Diferentemente de seus colegas de bancada, Bagattoli não precisará enfrentar as urnas em 2026, já que se elegeu em 2022 e tem mandato garantido até 2030. Isso lhe permite adotar um discurso mais alinhado com sua base bolsonarista, reforçando críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aos desdobramentos das punições aplicadas aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, sem a pressão eleitoral imediata.
Marcos Rogério, também do PL, ampliou o debate com uma reflexão sobre o significado dos atos de 8 de janeiro. Em publicação nas redes sociais, o senador questionou os critérios para diferenciar protestos legítimos de atos de terrorismo, abordando o episódio com um discurso menos centrado em casos individuais e mais voltado para uma análise das respostas institucionais. “Houve vandalismo e pessoas que agiram de má-fé, mas também houve muita omissão por parte daqueles que deveriam ter agido de maneira diferente”, pontuou.
Com mandato previsto para encerrar em 2026, Rogério equilibra sua retórica para dialogar tanto com a base bolsonarista quanto com eleitores moderados, já pensando na construção de sua campanha para reeleição ou, possivelmente, outros desafios políticos. Sua análise atrai seguidores interessados em uma visão mais ampla, mas ainda mantém elementos de polarização que fortalecem sua posição dentro do campo da direita.
Em uma abordagem oposta, Confúcio Moura (MDB) classificou os eventos como um “ato terrorista”, enfatizando os perigos do extremismo político. Com um discurso mais voltado ao aprendizado histórico, o senador relembrou os anos de ditadura militar e alertou sobre os riscos da polarização. Moura também defendeu o equilíbrio como caminho ideal, citando Aristóteles e desmistificando as divisões rígidas entre direita e esquerda.
Com seu mandato também encerrando em 2026, Moura tenta se consolidar como uma voz moderada, buscando atrair eleitores desiludidos com os extremos ideológicos. Como único aliado do presidente Lula (PT) na bancada de Rondônia, ele tem procurado distanciar sua imagem dos polos partidários, reforçando sua autodenominação de político de centro, embora já tenha se declarado centro-esquerda em momentos anteriores.
As manifestações dos senadores de Rondônia sobre o 8 de Janeiro refletem estratégias políticas que priorizam a manutenção de suas “bolhas” eleitorais. Jaime Bagattoli, com seu mandato garantido até 2030, adota um discurso combativo que agrada à sua base. Já Marcos Rogério e Confúcio Moura, ambos de olho em 2026, moldam suas narrativas para equilibrar demandas locais e ampliar alcance nacional.
Com as eleições de 2026 no horizonte, a questão que se impõe é se o tom ideológico permanecerá ancorado em ataques a adversários e na reafirmação de bases eleitorais já conquistadas, ou se haverá espaço para um debate mais propositivo e menos calcado na retórica polarizadora.
A democracia brasileira seguirá testada nos próximos anos. E, se depender dos líderes políticos de Rondônia, os desafios do extremismo e da despolitização ainda estarão longe de superados.
Via Rondoniadinamica