De acordo com dados do Ministério da Saúde o Brasil registra nesta sexta-feira, 10, 1.056 mortes em decorrência do novo coronavírus e 19.638 casos confirmados. São 1.781 novos diagnósticos confirmados e 115 mortes registradas nas últimas 24 horas. O marco de 1.000 óbitos foi atingido no país apenas 25 dias após a confirmarão da primeira morte. A Itália, país com o maior número de mortos pela epidemia, demorou 21 dias para atingir essa marca.
De acordo com o epidemiologista e infectologista e mestre em saúde pública Bruno Scarpellini, o número de mortos está acima do esperado para a curva de infecção no Brasil. “O número de mortes está acima do esperado para este momento. Os números de hoje refletem o que foi feito nas últimas duas a quatro semanas, período em que o isolamento social foi mais intenso no país. Portanto, a expectativa era que a quantidade de mortos fosse menor com todas essas medidas. Esse aumento mostra que o isolamento que fizemos não foi suficiente.”, explica. Desde o final de março, diversos estados adotaram modelos de distanciamento social, incluindo suspensão de aulas, adoção de home office por empresas, fechamento do comércio, entre outros.
O lockdown nada mais é que a quarentena. Engana-se quem acha que o Brasil está em uma quarentena. Por aqui, a estratégia adotada até o momento é a de distanciamento social horizontal. Quarentena é o que foi aplicado em Wuhan, na China e o que está acontecendo na Itália e na Espanha. “No lockdown, a quarentena é forçada. Existem leis que permitem as autoridades mandarem as pessoas voltarem para casa se estiverem na rua sem motivo. É bem mais intenso do que o isolamento horizontal que estamos vivendo, quando há a recomendação das pessoas ficarem em casa”, explica Scarpellini.
Na Itália, por exemplo, as pessoas só podem sair de casa para ir ao supermercado ou à farmácia. Além disso, há limitação de quantas pessoas por família podem ir a esses lugares ao mesmo tempo e está proibido ir para outra cidade. Um cenário bem diferente do enfrentado aqui.
Na última semana, a taxa de distanciamento social tem caído no país. Dados de São Paulo mostram que houve uma redução de 13% no isolamento social na última semana. Com o afrouxamento do distanciamento social, Scarpellini alerta para um aumento no número de casos e mortes nas próximas semanas. “O afrouxamento do isolamento social agora pode refletir em um aumento ainda maior no número de mortes registradas daqui a duas ou quatro semanas, que o período necessário para ver as consequências das medidas de isolamento”, diz.
Poder de transmissão do vírus
Um estudo recente mostrou que o poder de transmissão do novo coronavírus é maior que o esperado. Acreditava-se que cada pessoa infectada transmitia o vírus para duas a três pessoas. Esse novo estudo mostrou que, na verdade, é o dobro. Cada infectado contamina até seis pessoas. Diante disso, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), passou a recomendar o uso de máscara dentro de casa, mesmo para pessoas sem sintomas de coronavírus. “O objetivo é proteger não só você, mas também sua família, caso você seja um infectado assintomático.”, explica o especialista.
Um artigo publicado na terça-feira 7 na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical aponta que o pico de casos no país ocorrerá entre abril e maio. O estudo também indica que a circulação da doença, a Covid-19, se dará até meados de setembro. Neste cenário, o material aponta que “existem preocupações quanto à disponibilidade de unidades de terapia intensiva (UTI) e ventiladores mecânicos necessários para pacientes hospitalizados”.
O objetivo do distanciamento social, junto com outras medidas como o uso de máscaras, a realização de testes, a higienização das mãos e a etiqueta da tosse não é acabar com a epidemia, mas reduzir a taxa de transmissão e achatar a curva. O isolamento social compra tempo. “Tempo para termos mais ventilador mecânico, pra termos equipe de saúde para atender em sistema de rodízio a medida que alguns desses profissionais são afetados pela Covid-19 ou tem burnout. Tempo para que a ciência possa descobrir uma medicação especifica e desenvolver uma vacina. Porque até que apareça uma vacina ou algo que possa prevenir a infecção, a medida mais eficaz que a gente tem é o isolamento, infelizmente.”, diz Scarpellini.
Ocupação de hospitais
Para Scarpellini, uma forma efetiva de exemplificar a gravidade da infecção no Brasil seria divulgar o estado de ocupação de leitos hospitalares em todo o país. “Ajudaria a população a entender o que está acontecendo, a gravidade da situação e a importância do isolamento social”, disse.
Apesar do alto número de pessoas infectadas, hospitalizadas e mortos, os hospitais, na maioria das regiões, ainda não estão lotados e o sistema de saúde não está sobrecarregado. O que pode mudar em breve. “É preocupante porque se o número de mortes já está alto com os hospitais dentro da da capacidade de atendimento, como vai ficar como eles estiverem lotados? A redução da intensidade do isolamento com os hospitais cheios pode levar a um aumento muito grande no número de mortes nas próximas semanas.”, alerta Scarpellini.
Cada um faz a sua parte
A estimativa do Mapa Brasileiro da Covid-19 informa que 50% da população está de quarentena em casa, número não satisfatório para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, de acordo com especialistas. As estimativas são feitas sobre 60 milhões de telefones celulares e não contam como dados oficiais.
“Modelos matemáticos mostram que uma mudança na curva da epidemia pode ser alcançada a partir de 75% de isolamento. O futuro é preocupante. A mensagem de ficar em casa tem que ser intensificada. Estamos em um momento de reflexão individual. De pensar o que eu, como indivíduo, posso fazer para melhorar essa situação, para minimizar esse problema. Se todo mundo pensar assim e fizer sua parte, a gente pode resolver. Senão vai acontecer igual na Itália e nos Estados Unidos, que demoraram para adotar medidas de isolamento e viram os números dispararem.”, alerta o médico.
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