No esquema montado pelo governador Confúcio Moura (PMDB) com o balcão de negócios chamado Assembleia Legislativa de Rondônia foram protagonizadas cenas tragicômicas, sempre envolvendo dinheiro e ganância.
É o que revelam os inquéritos da Polícia Federal e que, aos poucos, estão vindo a público , devassando os atos de uma organização criminosa que tinha à frente , segundo a PF, o chefe do Poder Executivo estadual, e que resultou numa roubalheira de R$ 57 milhões – boa parte desse dinheiro desviado da Secretaria Estadual de Saúde.
Em sua delação premiada, o ex-secretário-adjunto de Saúde do Governo Confúcio, José Batista da Silva, revelou que a ideia de comprar os deputados estaduais partiu do próprio chefe do Poder Executivo.
Segundo Batista revelou à Polícia Federal, Confúcio criou oitocentos cargos de CDS para lotear entre os parlamentares. A cada deputado coube uma cota de R$ 40 mil para serem recebidos por seus indicados. Por convicção, apenas o deputado Ribamar Araújo (PT) não aceitou participar da negociata.
Os deputados Neodi Carlos e Glaucione Rodrigues também se recusaram, mas não por um ato nobre: é que eles já tinham negócios com o Governo e temiam envolver-se num escândalo de nomeação de funcionários fantasmas. Os então deputados Valter Araújo (hoje preso) e Jesualdo Pires (atual prefeito de Ji-paraná) também não entraram no loteamento porque já tinham negócios muito maiores com o Estado e também ficaram receosos de um escândalo.
O único a não ser procurado foi Hermínio Coelho (PSD), notório opositor de Confúcio.
Foi nesse esquema de compra de deputados com cargos públicos que brotou uma outra ideia na mente de Confúcio Moura, segundo Batista. O governador decidiu reforçar a negociata loteando contratos de prestação de serviços entre os parlamentares.
E aí se deu um episódio tragicômico (mistura de comédia com tragédia).
Em 2011, numa reunião na casa do hoje deputado federal eleito Lúcio Mosquini (PMDB), então diretor geral do DER, Confúcio encontrou-se com o ex-deputado Carlão de Oliveira, o deputado Jean Oliveira, filho de Carlão, o próprio Mosquini e José Batista da Silva,então todo poderoso secretário adjunto de Saúde e operador de alguns esquemas de corrupção montados no Governo da Cooperação.
Naquela reunião, segundo relatou Batista à Polícia Federal, Confúcio decidiu entregar a Carlão de Oliveira e Jean os serviços de lavanderia de roupa suja dos hospitais de Cacoal, São Francisco, Cemetron, João Paulo II, Hospital de Base e Hospital Infantil Cosme e Damião.
Na ocasião, a Secretaria Estadual de Saúde fez estudos técnicos e constatou que o total de roupa a ser lavada chegava a 950 quilos por dia. Mas isso desacontentou a dupla Carlão-Jean, que apresentou a Batista um tal de Professor Cláudio, que apareceu na Sesau com um “estudo” pelo qual os 950 quilos /dia saltaram para cinco mil quilos, ou seja, cinco toneladas de roupa suja por dia.
Batista reuniu-se com Carlão, Jean e o tal professor Cláudio e tentou mostrar a exorbitância entre o projeto básico da Sesau (950 quilos por dia) e o “estudo” da família Oliveira (5 toneladas/dia).
Jean Oliveira, que se elegeu em outubro deste ano para mais um mandato na Assembleia, ficou possesso e gritou que Confúcio havia mandado fazer.
Batista, irritado, disse que não faria porque, naquele momento, tinha gente morrendo no chão dos hospitais e não queria ser preso por causa da ganância do parlamentar.
“Não tem parente meu no chão de hospital e se o esquema for descoberto, quem vai vai preso é você, porque eu não vou assinar nada”, vociferou Jean.
Tomado de ira, Batista deu um soco no deputado, que revidou com tapas e pontapés e os dois rolaram no chão do gabinete da Sesau, sendo separados pela turma do deixa-disso, que entrou na sala ao ouvir o arranca-rabo entre o deputado e o secretário. Pouco tempo depois, Batista foi preso pela Polícia Federal na Operação Termópilas e Jean , neste ano, teve mais uma vez sucesso nas urnas, sendo eleito para uma nova legislatura.
Da reportagem do Tudorondonia