- Sobre grelos*, soja e outras façanhas da Agricultura
Se há um segmento em que o Brasil pode avançar significativamente, esse setor se chama agricultura. Decerto, o acúmulo de minha sapiência campesina se deu restritamente na distante juventude. Nessa ocasião, a rápida tarefa de plantar algumas cebolas, poucas batatas, muitas couves, parreiras, nabos, grelos, milho e outras quinquilharias da mesa diária faziam parte de minha labuta diária entre os livros, lascas de bacalhau salgado, copos de vinho e as inenarráveis galhofas juvenis. Mesmo diante de tal curriculum agrícola, o balizamento imposto por este autor merece uma profundidade maior, caso tenhamos o desejo de descobrir verdades agrícolas mais robustas.
- Desequilíbrio da terra
No fundo, todo brasileiro é um defensor ardoroso da agricultura familiar e de tudo aquilo que ela representa. Nesse sentido, os números falam por si e a leitura de tais algarismos mostra-se reveladora. Conforme o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), mais de 70% de todos os alimentos que chegam às casas dos brasileiros e enfeitam seus belos pratos provém da agricultura familiar. Por outro lado, a terra agricultável fixada na mão desse povo trabalhador pouco passa de 25%. Simultaneamente, em números absolutos, 85% das propriedades rurais são de pequenos agricultores. Sabem o que isso significa?? Cerca de 75% das terras agricultáveis estão concentradas em menos de 15% de grandes proprietários! Esse cenário concentrador (praticamente superado pela Europa e Japão na primeira metade do século XX) ainda é uma triste realidade tupiniquim.
- Alimento para o mundo
Mas esse papo furado todo veio a propósito de um artigo publicado na última semana, cujo tema era o desempenho da agricultura verde-amarela na produção de grãos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, a safra 2014-2015 deverá alcançar a marca de 200,5 milhões de toneladas. Esse recorde esconde outros detalhes. Desse total, 94,5 milhões dizem respeito à famigerada e necessária soja. A colheita do milho chegará a 78,4 milhões de toneladas, arroz com 12,1 milhões, feijão 3,3 milhões, e o trigo atingirá 5,9 milhões de toneladas… entre outros números mais modestos de diferentes sementes. Sem dúvida alguma, não será por falta de alimentos que a fome deixará de ser banida dos lares conterrâneos. Hoje, já somos o 5º maior produtor de grãos do mundo e, em 10 anos, deveremos superar os Estados Unidos e nos transformarmos no maior produtor de alimento no planeta.
- O aumento da produtividade
Mas o que chama a atenção ao ver os gráficos é o vertiginoso aumento da produtividade de nossa agricultura. Na safra de 1994/1995, produzia-se 2,1 toneladas de grãos por hectare plantado. Na safra de 2002/2003, essa produtividade havia chegado a 2,8 toneladas por hectare. Esse aumento da produtividade é fundamental à competitividade dos produtos, da segurança alimentar do país e, por tabela, para a diminuição da pressão sobre as florestas (desmatamento). Esse ganho na produção só é possível com tecnologia e apoio institucional dos governos. A safra de 2014/2015 terá uma produtividade, por hectare semeado, de 3,5 toneladas. Um avanço considerável a ser superado com políticas públicas adequadas.
- A diversificação está no pequeno
Enquanto a área plantada saiu de 38.339.000 hectares para 55.400.000ha, ou seja, um aumento de 44,5%, a produção de grãos saltou de 81,06 milhões de toneladas, em 1994/95, para 200,5 milhões em 2014/2015, o equivalente a um incremento de 147,34%. O Brasil é grande e comporta os dois tipos de agricultura (familiar e agronegócio). No entanto, nossa vocação e foco estratégico, é o imprescindível fortalecimento da agricultura familiar. Afinal, como diz Marcos Rochinski, coordenador geral da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar do Brasil (FETRAF): é desse setor que sai a comida do povo brasileiro. Mais de 80% do leite, do feijão, da mandioca, das aves e dos suínos vêm desse segmento garantidor dos alegres e fartos almoços de domingo.
Glossário para mentes poluídas
*GRELOS – é um nome genérico para um rebento de uma planta, muito apreciado em Portugal e na Galiza como acompanhamento da culinária portuguesa. Os cultivares mais representativos na culinária portuguesa são o nabo, a couve, e a nabiça (também conhecida como colza). Wikipédia