Coluna Política sem Censura LENGA-LENGA LONGE DO BRASIL. O cenário, aparentemente, é de simples compreensão. Num distante país, aconteceu um processo eleitoral. Lá, muitos cidadãos queriam ser presidente daquelas terras charmosas, calorentas e cheias de riqueza.
Lenga-lenga longe do Brasil
Que coisa mais chata e enfadonha! Todos os dias, sou obrigado a ler e reler uma série de matérias sobre a “fúria” a ser desencadeada pela oposição política em face do resultado das eleições num país distante… “Não haverá diálogo com o governo, pois a sua vitória veio “eivada de suspeitas”. “Por nossa parte (oposição), haverá guerra total contra o Governo Federal”… segue-se um monte de baboseiras cataclísmicas anunciando, mais uma vez, o fim do país. Aliás, esse “Capítulo Final” anunciado lembrou-me o Brasil. Por estas searas, a pá de cal sobre nós deveria ter acontecido antes da Copa do Mundo, cuja tragédia foi antecipada pela grande mídia tupiniquim aos quatro ventos… não só não aconteceu o “armageddon”, como a Copa foi um sucesso mundial (a Alemanha é a primeira a confirmar).
2. Constatação
Segundo reza a lenda, o charuteiro servo de sua Majestade, Sir Winston Churchill, em meio aos sarilhos da 2ª grande guerra, profetizou a seguinte frase: “a democracia é o pior regime que existe, mas ainda não inventaram outro melhor”. Vindo tal afirmação de alguém conhecedor das mazelas orquestradas por regimes autoritários e dos estragos provocados por eles nas mentes humanas, há muito que decidi pela defesa da democracia, mesmo entendendo suas limitações e dificuldades. O problema torna-se crítico quando as pessoas não sabem respeitar um princípio básico: inexistindo consenso, as questões devem ser resolvidas no voto. Aquilo decidido pela maioria, deve prevalecer para todos… e toca-se o barco.
3. Matemática pura
O cenário, aparentemente, é de simples compreensão. Num distante país, aconteceu um processo eleitoral. Lá, muitos cidadãos queriam ser presidente daquelas terras charmosas, calorentas e cheias de riqueza. A maneira de escolha, depois de muitas discussões jurídicas, foi a do voto. Ao final desse tal processo (no qual os candidatos trocaram acusações duríssimas e jamais se dirigiram uns aos outros com adjetivos do tipo: lindo, inteligente, capacitado, bonitão, cheirosinho ou sumidade intelectual…), houve um resultado. A candidatura “X” teve 54.501.118 votos e a candidatura “Y” apenas 51.041.155 votos. Feitas as contas, a escolhida pelo povo, ou seja, pela maioria, obteve 3.459.963 de votos a mais do que o enfurecido candidato “Y”. Qual a dificuldade em entender e respeitar a vontade dos cidadãos?
4. Negação da política
A sensação no ar é a de que ganhar por uma vantagem pequena não é vitória a ser aceita, principalmente se o perdedor tiver amplo domínio sobre os principais veículos de comunicação. Ainda assim, convenhamos ser 3,45 milhões de votos muita coisa de diferença. Nessa discussão inócua, causa espécie a conjugação do verbo “espernear” por tanto tempo. As pessoas envolvidas passaram a não jogar o “game” da democracia de forma honesta. Sem prurido, estão apenas empenhadas no trabalho contra a nação. Não se fala da política como arte de negociação em busca do interesse nacional. Fala-se em “guerra total”… Apregoa-se orquestrar a ingovernabilidade, alimentam-se discursos a favor da ditadura militar e da volta do autoritarismo… Tenta-se inverter a matemática e transformar em vitoriosos os derrotados de forma inequívoca pela força das urnas.
5. O deles é diferente…
Nas últimas eleições americanas, Barack Obama foi eleito com 51,42% dos votos. Na França, François Hollande foi eleito com 51,62% dos votos. Não me recordo de ter lido nada sobre uma indignação coletiva ou um questionamento explícito, por parte dos derrotados, a respeito da lisura do processo. Não me lembro de ter ocorrido um pedido de intervenção militar por parte daqueles perdedores, nem um flerte com a ditadura por conta da incontroversa derrota. Já nesse país distante, um vencedor com 51,64% dos votos não pode governar e, caso ouse fazê-lo, deve ser inviabilizado de todas as formas. Afinal, um grupo dentro dos perdedores julga-se no direito divino de exercer o poder e o resultado das urnas, não favorável aos seus sonhos, traduz-se como um ultraje a esse desejo secular e celestial.
Fonte: David Nogueira