Em meio as preocupações diárias, o cidadão comum pode não mensurar o real prejuízo patrimonial e psicossocial da enchente do Rio Madeira, mas a cheia deixou um saldo negativo para mais de 10 mil pessoas atingidas diretamente pelo fenômeno. Bairros com grande riqueza histórica, a exemplo do Triângulo e Baixa da União, e 100% do chamado Médio e Baixo Madeira foram engolidos literalmente pelas águas turbulentas, deixando um rastro de destruição em casas habitadas há mais de um século, comércios, escolas e postos de saúde. Dificilmente, os órgãos municipais e estaduais, responsáveis pela condução da reconstrução do patrimônio, poderão avaliar os reais prejuízos financeiros. Mas no aspecto social, a dor das vítimas foi grande.
No dia 17 de fevereiro deste ano, logo no início da enchente, o corregedor-geral do Ministério Público, Rodney Pereira de Paula, reuniu os titulares das promotorias da Saúde, Educação, Urbanismo, Meio Ambiente e Cidadania e criou um grupo de trabalho para acompanhar as ações efetivas para ajudar os desabrigados. O próprio Rodney fez sobrevoos sobre os bairros da Capital e dos distritos atingidos pela cheia e determinou que cada promotoria convocada acompanhasse de perto o que de fato a prefeitura e o Governo de Rondônia estavam fazendo para amenizar o sofrimento das vítimas e começar a discussão sobre a reconstrução no pós-cheia.
A promotora da Defesa da Cidadania e Direitos Humanos, Daniela Nicolai de Oliveira Lima, fez um apanhado de matérias jornalísticas sobre o assunto e encaminhou ofícios a vários órgãos municipais e estaduais cobrando ações concretas. De posse dos primeiros relatórios dos 43 locais de abrigo – escolas e igrejas – a própria promotora visitou as famílias desabrigadas. Ouviu a demanda de todos, checou o tipo de alimentação servida, a higiene dos abrigos e fez registros fotográficos sobre o dia-a-dia dessas pessoas, que tentavam levar uma vida relativamente normal para quem perdeu praticamente tudo. “Algumas pessoas salvaram seus pertences pessoais e os alimentos fornecidos eram de doações dos órgãos públicos e da comunidade através de campanhas”, disse a promotora. Posteriormente, o Núcleo Psicossocial do Ministério Público também fez uma visita semelhante e anexou relatório técnico à Promotoria.
Na Promotoria de Justiça da Cidadania, representantes da Defesa Civil Estadual e Municipal relataram a promotora Daniela Nicolai que estavam trabalhando diuturnamente nos resgates nas áreas alagadas e que havia um plano de trabalho intercalado em quatro etapas: socorro e abrigamento, assistência, recuperação e reconstrução. De posse das informações, a promotora deliberou que encaminhassem relatórios periódicos sobre o avanço das etapas de atendimento a população. E assim foi feito.
Casas populares e reconstrução do Baixo Madeira
Com a prorrogação do decreto de calamidade pública com aquiescência do Ministério Público foi possível o Banco do Brasil, como agente financiador do programa Morada Nova, destinar 50% do empreendimento para as famílias desabrigadas, desde que estejam dentro dos critérios de financiamento da instituição. 2 mil casas, segundo informações da Secretaria de Ação Social (Seas), deverão ser entregues até o término de 2014. A outra etapa refere-se a reconstrução das áreas destruídas. O Bairro Triângulo, pelo menos nas proximidades dos trilhos, não será habitado novamente. No lugar das casas, a prefeitura e o Estado construirão áreas arborizadas, parques de lazer e outros logradouros públicos. A Promotoria do Meio Ambiente entende que aquele local é uma Área de Proteção Permanente (APP), portanto, impossibilitada de abrigar habitações. A novidade promete polemizar entre os próprios desabrigados do Triângulo, já que muitos herdaram aquelas casas de famílias que chegaram há 100 anos a Porto Velho.
Em relação ao Baixo Madeira, a Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo de Rondônia propôs o Plano de Reconstrução. O Estado se responsabiliza pela compra de áreas de terra em locais seguros (distante da margem do rio) para refazer as cidades de Calama, Nazaré, São Carlos, Aliança, Itapuã e Maravilha. O Governo Federal, ao liberar os recursos, deixa claro a proibição de que os moradores não poderão voltar as antigas áreas e nem o poder público poderá reformar escolas ou postos de saúde, mas construir novos logradouros.
Moradores exigem pressa
Fonte: RONDONIAGORA
Autor: Gérson Costa