Temas proibidos nas eleições
Veja a coluna do Professor Nazareno*
Veja a coluna do Professor Nazareno*
Como ainda vivemos em uma democracia, este ano tem eleições novamente. E isso é muito salutar e bom em um regime político em que prevalecem as escolhas dos representantes no voto. São as eleições municipais para escolher prefeitos e vereadores das cidades. Essas eleições são de menor importância para a conjuntura política do país, mas é esse o pleito que mostra o real valor do eleitor, já que o mesmo mora e vive no município. A justiça eleitoral, no entanto, já está se preparando para as campanhas políticas e adverte que alguns temas são proibidos para os candidatos quando estiverem pedindo o voto dos seus eleitores. Preconceitos, violência, desobediência civil, calúnia, difamação, injúria, promessas e vantagens, dentre outros temas, estão todos proibidos. Aliás, sempre estiveram. E isso demonstra o grau de civilidade esperado pelos tribunais.
Não será tolerada também nenhuma narrativa que deprecie a condição ou estimule a discriminação em razão do sexo feminino, ou em relação a sua cor, raça ou etnia. Porém, no caso específico de Porto Velho, a insólita capital de Roraima, alguns temas também deveriam ser proibidos para quem vai pedir o seu voto. Não dizer, por exemplo, que é um candidato representante das esquerdas. Em Rondônia e principalmente na capital nunca houve um só candidato que representasse essa posição ideológica. Quase todo político daqui é da direita e também da extrema-direita. Ricos, abastados, bem sucedidos, alguns são oriundos da elite reacionária, moram bem, têm carros de marcas caras e até passam férias todo ano nas paradisíacas praias do Nordeste e mesmo no exterior. Nenhum deles mora, por exemplo, lá na zona leste da capital e nem na zona sul. Seria a esquerda festiva?
Deveria ser proibido também o candidato dizer que é da oposição. Qual o político local que já fez oposição a quem quer que seja? Conheço algumas cidades do Estado em que 100 por cento dos vereadores estão do mesmo lado do prefeito e também compactuam com ele. Mesmo aqueles que foram eleitos por partidos ditos de oposição. Essa bisonha atividade do Legislativo, “lamber botas” do Poder Executivo, infelizmente não é uma invenção rondoniana. No Brasil inteiro se percebe esta cretinice na maior cara de pau. Hoje em dia é cada vez maior o número de políticos locais que já tecem loas a Lula. Antes, a adulação era para o Bolsonaro. Fica proibido também falar qualquer coisa sobre o IPAM, o Porto do Cai N’água de Porto Velho e também da Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Os milhares de urubus e de ratos de lá podem ficar muito aborrecidos.
Outro assunto que também deveria ser um tabu nas próximas eleições da “capital das sentinelas avançadas” é a construção do moderníssimo “Built to Suit” para substituir o eterno “açougue” João Paulo Segundo. Apesar de ser uma obra estadual, ela está muito ligada aos munícipes. Falar até pode, mas só se for para mostrar que as obras estão “de vento em popa” e que muito em breve serão entregues à população mais carente do Estado e da capital karipuna. E nada de falar dos inúmeros “palácios suntuosos” que foram construídos nessa capital nos últimos anos. Tudo isso em detrimento de um hospital de pronto-socorro de vergonha para os porto-velhenses pobres. Os candidatos a prefeito e a vereadores serão muitos (como sempre) e todos eles com o “desejo de trabalhar” pelos mais necessitados. Deve-se evitar o estresse e não dizer nada sobre saneamento básico, arborização, mobilidade urbana e a água tratada na cidade. Não é censura. É a realidade!
*Foi Professor em Porto Velho.