Ditadura, tortura, censura…
Segundo os padrões de Jair Bolsonaro, nunca houve uma Ditadura Militar no Brasil. Para a extrema-direita, o que houve foi apenas um regime militar. Aliás, o cantor Zezé de Camargo, bolsonarista roxo, que forma uma dupla caipira com o seu irmão Luciano, afirmou em uma entrevista que nunca houve Ditadura Militar no nosso país. “O que houve foi apenas um militarismo vigiado”, afirmou o pouco esclarecido artista sertanejo. Amado Batista, outro artista também de pouco conhecimento da política nacional e seguidor fiel do Bolsonaro e dos militares, tem uma opinião quase idêntica. Amado fez fortuna cantando sucessos da música brega, foi preso e torturado pela ditadura quando trabalhava numa livraria de Goiânia, mas disse que mereceu tudo o que passou nas mãos de seus carrascos. Mesmo assim, ele é um fiel defensor dos militares.
Admirador convicto da tortura e de torturadores como o coronel Brilhante Ustra, Bolsonaro e seus seguidores podem negar o que quiserem, mas jamais poderão mudar o rumo da História. Em 1964, em plena Guerra Fria, no Brasil e em toda a América Latina, os Estados Unidos financiaram cruéis e assassinas ditaduras militares, alinhadas a Washington, com o objetivo de barrar o avanço certo do comunismo em todo o continente como ocorrera antes com Cuba. A elite brasileira, para manter seu patrimônio e evitar a dianteira de forças mais progressistas, usou os militares para dar o golpe de Estado. Assim, não houve revolução nenhuma nem militarismo vigiado. Foi uma tomada de poder pura e simples. Sempre com o apoio dos ricos e poderosos, os milicos assumiram o poder no país e mandaram os opositores para o exílio ou à morte.
Além de cruel e assassina, a Ditadura Militar que se instalou no país a partir de 1964 também foi muito incompetente. Governou o país por quase 21 anos e “saiu de fininho” em 1985 sem que tivesse havido qualquer movimento para tirá-la do poder. A infame Ditadura caiu de podre. Os militares foram usados pela elite do Brasil, que quando não precisou mais deles, virou-lhes as costas. Os fardados promoveram o exílio, a tortura, o atraso, a perseguição a oposicionistas e o desrespeito aos direitos humanos. E pior: por pura incapacidade, eles não criaram uma sociedade melhor para as futuras gerações. Se não houve tortura, para que então serviam os DOI-CODI? E qual era a função do coronel Brilhante Ustra? Não houve censura também, dizem os puxa-sacos, mas não se podia ouvir nem o Geraldo Vandré nem algumas músicas de Chico Buarque.
A elite atrasada do Brasil também deu outro golpe em 2016 só que em vez dos militares usaram o Congresso Nacional “com o Supremo e tudo” para tirar a Dilma Rousseff e o PT do poder. Bolsonaro, os cantores bregas, os radicais da extrema-direita e todos os bolsonaristas mais exaltados podem falar o que quiserem. Podem até censurar as questões do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio como estão fazendo agora, mas jamais vão mudar a História. Podem até criar fakenews, tentar proibir “isso e aquilo” como sempre fizeram, mas não poderão jamais negar que a fila do osso, por exemplo, passou a existir somente no governo do “asno genocida e negacionista”. Como esconder que a inflação voltou ao país depois de mais de duas décadas de preços estáveis? E o preço da gasolina? Como negar o aumento do desmatamento na Amazônia e a volta da fome em pleno século XXI? Fato: “A História só se repete como tragédia”.
Professor Nazareno