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Perfil rondoniano em 2171

A íntegra da coluna redigida por Professor Nazareno

A íntegra da coluna redigida por Professor Nazareno

Estamos no futuro! O ano é 2171, a exatos 150 anos de hoje. E por incrível que pareça, Porto Velho e Rondônia, apesar de tudo, ainda resistem no tempo. A capital dos rondonienses continua lá no futuro ainda suja, imunda e mal administrada. É uma espécie de oásis em meio a grandes extensões de terras arenosas e inservíveis. Árvores não há. A floresta amazônica deu lugar a areões improdutíveis e estéreis. Todos os rios da região secaram. O outrora imponente rio Madeira não passa de um pequeno filete de água suja que só serve para transportar o esgoto produzido pela cidade. Urubus e ratazanas infestam as ruas quase sem vida. Em uma escola pública, um professor diz a seus alunos o que foi a pandemia do Coronavírus ocorrida há um século e meio e que teria matado no Brasil três milhões de pessoas. Só em Rondônia, foram 30 mil mortes.

O professor, depois de ter saído de uma greve de 400 dias por melhores salários, tenta explicar a seus alunos que em Rondônia, alguns homens públicos tentaram acabar com a pandemia usando a fumaça de solda elétrica e por isso serviram de galhofa no resto do país. Disse também que o governador do Estado na época era um negacionista e fazia de tudo para adular ao presidente da República, por isso vivia muito confuso: não sabia se usava os protocolos prescritos pela ciência ou se lambia botas de seu “chefe”. Bisonhamente, o mandatário estadual e o seu secretário de Saúde faziam rotineiros “pit stops” para distribuir remédios sem nenhuma eficácia e não recomendados pela ciência para deter o Coronavírus. O professor explicou também que a pandemia serviu para que um famoso “açougue” que existia na capital fosse totalmente ignorado pelos pacientes.

Emissoras de televisão de Rondônia e também alguns sujeitos metidos a “jornalistas” durante a pandemia faziam irresponsavelmente propagandas de um “tratamento precoce”, igualmente sem nenhuma eficácia, só para confundir os idiotas e ajudar dessa forma na venda de remédios. Só que a mídia, quase toda ela vendida aos políticos de plantão, servia, como sempre, somente aos interesses dos poderosos. O cuidadoso professor explicou que a pandemia do Coronavírus teve consequências relativamente iguais às outras pandemias: depois da Peste Negra veio a Inquisição. Depois da Gripe Espanhola veio o Holocausto e depois da Covid-19 veio a reeleição, várias vezes no Brasil, de candidatos da extrema-direita. O conservadorismo floresceu no país por quase um século mandando e desmandando na população e nos costumes.

O governo do Brasil, durante a pandemia da Covid-19, esconjurou as vacinas do mundo inteiro e turbinou a produção de Cloroquina, remédio cientificamente reprovado pela OMS como sendo inútil para combater o vírus. Milhões e milhões de doses de vacinas, que poderiam ter salvado muitas vidas, foram rejeitadas sistematicamente pelo presidente, que na época foi acusado de genocida. Jair Bolsonaro da extrema-direita era o nome do mandatário do Brasil no ano de 2021. Ele fazia escárnios e debochava dos cidadãos mortos pela doença. Falava que a pandemia, temida no mundo inteiro, não passava de uma gripezinha e pedia aos familiares dos mortos que “parassem de frescura e de mi mi mi”. Toda vez que falava estas asneiras ele era aplaudido e sempre mais admirado pelos milhões de fãs. Já na Rondônia de 2171 o governador, sargento José Rocha Santos e seu vice Dr. João Lima Cassol Chaves mandaram prender o professor.

*Foi professor em Porto Velho

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