Senador preso no regime aberto propõe ‘idoneidade moral’ para a nomeação de cargos de confiança, diz O Globo
Após cumprir pena por oito meses na Papuda, Acir Gurgacz apresenta projeto de lei contratação nos Três Poderes
Após cumprir pena por oito meses na Papuda, Acir Gurgacz apresenta projeto de lei contratação nos Três Poderes
Recém-transferido para o regime aberto depois de oito meses cumprindo pena no semiaberto, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO) apresentou projeto de lei para exigir “idoneidade moral” e “reputação ilibada” para a nomeação de comissionados nos Três Poderes. Em fevereiro de 2018, o parlamentar foi condenado pelo Supremo por crime contra o sistema financeiro.
Em setembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou o último recurso e decretou a prisão dele em regime semiaberto. A cassação do mandato seria decidida pelo Senado. Mas, em acordo silencioso entre os colegas, o caso nunca chegou a ser debatido no plenário. Desde então, Gurgacz passava o dia no Senado e dormia no Presídio da Papuda (DF). Na semana passada, a Justiça autorizou sua transferência para o regime aberto.
O projeto de Gurgacz cria “requisitos” para cargos de confiança na administração pública direta, autárquica e fundacional dos Poderes da União. Ele enumera três exigências: idoneidade moral e reputação ilibada; perfil profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo; não enquadramento nas hipóteses de inelegibilidade.
As três regras estão previstas em decreto editado pelo governo federal em março. O senador estende as exigências aos outros Poderes. Na justificativa, Gurgacz diz que colocar esses requisitos em lei “confere maior solidez e perenidade às regras”.
“A medida garante que os ocupantes de cargos e funções tenham o que se convencionou chamar de ‘ficha limpa’, em linha com as expectativas da sociedade”, diz o senador, que não cogitou se afastar do mandato ao ser condenado.
Em nota, Acir Gurgacz diz que os princípios exigidos “sempre nortearam a sua vida pública e privada”. Ele diz que “não vê nenhuma contradição” em apresentar o projeto. “Ao contrário, isto é mais uma prova de que Acir é inocente e confia que a Justiça atestará a sua idoneidade, nos recursos que ainda serão julgados”, afirma.
A condenação do senador foi a quatro anos e seis meses de prisão. Segundo o processo, entre 2003 a 2004, ele conseguiu financiamento do Banco da Amazônia para renovar a frota de ônibus da Eucatur, da qual era diretor de duas filiais. O banco liberou R$ 1,5 milhão. No entanto, do total, R$ 525 mil teriam sido desviados para o próprio senador. Com o restante, ele teria comprado ônibus velhos. Além disso, a prestação de contas teria sido feita com notas fiscais falsas.
A sentença de Gurgacz também prevê a perda dos direitos políticos. A Justiça encaminhou à Presidência do Senado ofício para que a perda do mandato fosse submetida ao plenário da Casa. Na época, o então presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), disse que pautaria o caso, mas nunca o fez. O atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi procurado pela reportagem, se irá levar o caso para o plenário da Casa e não respondeu.
Amanda Almeida e Daniel Gullino – O Globo