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Isa Colli: Não há heroínas ou vilãs no caso da janela do avião

A situação envolvendo Jennifer, Aline e demais passageiros daquele voo nos mostra que é preciso ter empatia para entender as dores e as motivações de cada um.

A situação envolvendo Jennifer, Aline e demais passageiros daquele voo nos mostra que é preciso ter empatia para entender as dores e as motivações de cada um.

O caso da disputa pela janela do avião em um voo da companhia Gol mexeu com a opinião pública na última semana e ainda gera polêmica. Para lembrar o ocorrido: uma passageira, que não é Aline, a mãe do menino que chora durante o vídeo e nem faz parte da mesma família, gravou e constrangeu a passageira Jennifer Castro por não ter cedido o seu assento na janela para a criança, de quatro anos.

A autora dos vídeos, uma advogada de Belo Horizonte, compartilhou as imagens com sua filha, que decidiu postá-lo no TikTok. O problema é que essa informação só veio a público depois que o conteúdo já estava viralizado. A notícia que se espalhou inicialmente foi que a própria mãe havia feito e compartilhado as imagens sem autorização de Jennifer. Criou-se um “tribunal virtual” e as pessoas se sentiram no direito de “julgar”, sem saber de fato o que havia acontecido naquela viagem. Jennifer virou heroína; já Aline, a mãe do menino, foi “condenada” como a vilã da história.

Que lições esse caso nos traz? Em primeiro lugar, creio que não devemos julgar as pessoas se não sabemos as histórias por completo, se não ouvimos todos os lados. O linchamento nas redes sociais ganha proporções avassaladoras e pode destruir vidas. A situação envolvendo Jennifer, Aline e demais passageiros daquele voo nos mostra que é preciso ter empatia para entender as dores e as motivações de cada um.

A moça que não quis ceder o lugar na janela estava dentro de sua razão, já que havia comprado a passagem no assento que o garotinho queria, mas a mãe, que foi inicialmente massacrada pela opinião pública, conseguiu comprovar que não foi ela quem filmou e compartilhou o vídeo, não a tempo de impedir o julgamento geral. A senhora que de fato filmou e postou as imagens só apareceu quando o caldo já estava entornado. Disse estar arrependida, mas quanto gerou de danos com uma atitude impensada?
Jennifer impressionou com sua serenidade e resiliência diante de uma situação de tamanha pressão. Recebeu apoio do público, virou celebridade nas redes sociais e ainda nem sabe o que fazer com tamanha repercussão a seu favor. Em poucos dias, ganhou mais de 2,4 milhões de seguidores no Instagram. Aproveita seu momento de fama como garota-propaganda de marcas famosas. Por outro lado, a mãe do menino que fez birra teve de fechar sua conta na mesma rede social por estar sofrendo ataques e ameaças. Agora que Aline já esclareceu o que de fato aconteceu, será preciso juntar os cacos quebrados. Fato é que, nessa história, há mais vítimas do que donos da verdade.

E nós, quando julgamos precipitadamente as pessoas no tribunal das redes, que sejamos mais prudentes ao compartilhar alguns conteúdos por puro instinto sensacionalista. Por mais responsabilidade em nossos atos, por mais amor, empatia, solidariedade e cuidado com o próximo.

Por Isa Colli, jornalista e escritora

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