Projeto do Santo Antônio foi facilitado por meio de propina da Odebrecht, segundo delator.
O Senador Aécio Neves teria acertado R$ 50 milhões para garantir facilidades para empreiteiras no projeto das usinas do Rio Madeira.
As irregularidades na construção da Usina Hidrelétrica do Santo Antônio entraram mais uma vez no foco da Lava Jato. Isto devido às delações da última semana que resultaram na chamada Lista da Odebrecht, indiciando mais de 100 políticos entre parlamentares, governadores e membros do Governo Federal.
Henrique Valadares, ex-diretor de da área e energia da Odebrecht, relatou em sua delação premiada dos jantares que participava com o senador Aécio Neves, o empresário Alexandre Accioly e o jornalista Diogo Mainardi (que nega este relato) no restaurante Gero, um dos mais conceituados do Rio de Janeiro, em algum momento entre o fim de 2007 e começo de 2008. Valadares se encontrava com o atual senador de Minas em Ipanema. Em um de seus encontros, Valadares conta que o ex-diretor de Furnas e homem de extrema confiança de Aécio no setor elétrico Dimas Toledo o procurou no escritório da Odebrecht na Avenida Pasteur, no Rio. Não era a primeira vez dele ali, nem seria a última. Dimas levava consigo um pedaço de papel com algumas informações sobre dados bancários. Era uma conta bancária em Cingapura, identificada como “Accioly”.
Valadares afirma não ter dúvidas de que a conta era do amigo de Aécio. Nesta conta foram depositados algo em torno de R$ 2 milhões, afirma.
Mas a história, conforme conta o delator, não começa nem termina aí. Em fevereiro de 2008, Henrique Valadares e Marcelo Odebrecht marcaram um encontro com Aécio Neves. A conversa foi na residência oficial do governador, o Palácio das Mangabeiras, num ponto alto de Belo Horizonte. Com os três sentados nos confortáveis sofás do palácio, com vista para a cidade, a noite foi de conversas sobre a situação política e econômica do país, mas em tom de amenidades. Na saída, Aécio falou rapidamente com Valadares, sem dar maiores explicações: “O Dimas vai te procurar”.
Segundo o depoimento aos procuradores da Lava Jato, foi informado do grande fato da noite: eles tinham acertado um pagamento de R$ 50 milhões para Aécio. Era uma contrapartida a ações que o tucano, hoje senador e presidente do PSDB, iria tomar, usando sua influência como governador, em favor do consórcio que a Odebrecht formou com a Andrade Gutierrez pelas obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira.
As empreiteiras queriam resolver questões em relação ao leilão da usina de Jirau, que aconteceria dali a três meses. Daqueles R$ 50 milhões, R$ 30 milhões caberiam à Odebrecht pagar. O restante da propina seria executada pela Andrade Gutierrez.
Valadares relata do cronograma de pagamento planejado por Dimas: parcelas de R$ 2 milhões que foram pagas em diversas contas no exterior, totalizando o montante de R$ 30 milhões.
A respeito disso, o que as delações da Odebrecht mostram é que o padrão da empresa para pagamento de contribuições irregulares de campanha era por pagamentos em dinheiro vivo para emissários indicados dentro do Brasil. Pagamentos no exterior, em tese, teria como objetivo final enriquecimento pessoal. Valadares disse em depoimento não saber para que o dinheiro era usado.
Investigação na UHE Santo Antônio
A hidrelétrica concluída há menos de 6 meses na capital Porto Velho, passou a constar na lista de obras suspeitas na Lava Jato ainda em 2016. Em setembro daquele ano, a Polícia Federal deflagrou operação Omertá que prendeu o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci.
Desde a deflagração da Lava Jato, empresas envolvidas e suspeitas tiveram as atividades e empreendimentos suspensos cancelados. A Usina de Santo Antônio, que entre os sócios estão a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, alega problemas de caixa e enfrentam uma sentença arbitral determinando que devolvam R$ 750 milhões aos consórcios litigantes – Eletrobrás, Furnas e Cemig, que requereram a devolução da parte aplicada em razão às denúncias de desvios.
Alegando problemas de caixa para pagar compromissos, a Santo Antonio Energia pediu mais de R$ 2 bilhões para seus sócios desde 2014.
A empresa diz que foi prejudicada por greves que destruíram canteiros de obras da usina e, por isso, a obra atrasou e ficou mais cara que o previsto, gerando prejuízos.
Com informações de The Intercept Brasil e Folha de S. Paulo.