Caso Moisés Rodrigues: quatro anos de uma morte misteriosa e sem explicação
No dia 15 de janeiro de 2013, o servidor do Estado de Rondônia desapareceu no Rio Madeira. Polícia concluiu a causa por morte acidental, familiares acreditam piamente que Moisés Lima fora assassinato por ‘saber demais’.
A família do servidor Moisés Rodrigues Lima é tomada pela tristeza todo dia 15 de janeiro desde o ano de 2013, exatamente há quatro anos. Nesta data, durante uma viagem a trabalho de barco pelo Rio Madeira até Nazaré, no Baixo Madeira, em Porto Velho, o servidor – lotado na Secretaria de Estado da Educação (Seduc) – desapareceu quando voltava para a Capital.
O delegado responsável pelo caso, Paulo Kaqueones, concluiu o caso como morte acidental, causada por afogamento. A família de Lima, desde então, encampa uma luta desenfreada a fim de provar que a morte de um de seus membros não ocorreu por acaso.
Aliás, familiares acreditam piamente que Moisés Lima fora assassinato por ‘saber demais’.
No dia 14 de janeiro, Moisés seguiu em um barco com outros três colegas de trabalho até Nazaré, 170 quilômetros da capital, onde levaria materiais didáticos da Seduc para uma escola no distrito. No dia seguinte, todos os servidores retornaram no mesmo barco, mas durante a viagem, Moisés simplesmente sumiu.
Os esclarecimentos prestados à Polícia pela tripulação do barco Nossa Senhora Aparecida e por três servidores da SEDUC, dando conta de que a vítima teria surtado, ingerido bebida, caído no rio e morrido afogado, não tiveram sustentação de acordo com os laudos da Marinha e da Polícia Tecno-Científica.
Um dos membros da família acredita que uma carta enviada à época ao ex-secretário-chefe da Casa Civil Juscelino Amaral detalha a motivação da morte de Rodrigues.
“Essa carta em questão, corajosamente assinada por um servidor do Almoxarifado da Seduc, traduz uma realidade aterradora, ignorada pelo poder público. Havia muitas coisas erradas ocorrendo ali e Moisés estava ciente disso. Ele tinha consciência das situações espúrias vivenciadas ali e não coadunava com absolutamente nada daquilo. O Governo do Estado foi alertado e não fez nada. Além de pagar com a própria vida, Moisés foi eliminado como bêbado, um sujeito irresponsável e surtado. Nós sabemos que isso não é verdade”, disse.
A família disse ainda que não ira desistir do caso até que haja um desfecho satisfatório a fim de limpar a honra e a memória de Moisés Rodrigues Lima.
“As pessoas não podem esquecer o assunto. Ele não será varrido para debaixo do tapete”, concluiu o familiar.
Confira abaixo a íntegra da carta enviada à época
CARTA DENÚNCIA
Senhor Chefe da Casa Civil, vimos por meio deste mostrar nossa indignação com a administração do senhor RODRIGO BARROS WILLIANS atual diretor do Almoxarifado da SEDUC em Porto Velho.
O mesmo vem destratando os funcionários, como se fossemos animais, e o pior, como se ele pagasse nossos salários do seu bolso, gritando, humilhando, agredindo, impondo seu regime tipo ditatorial, sem permitir diálogo e justificativas aos servidores.
A agravo em seus posicionamentos, visto que o mesmo sacrifica uns e beneficia outros, como por exemplo, os servidores que trabalham no pátio (local onde se reserva o material) fazendo o trabalho duro (braçal), quando saem para uma viagem em serviço recebem 20 (vinte) diárias para realizarem o trabalho, enquanto que para outra equipe formada pelo gerente Wallace Kley de Souza Lima e o Chefe de pátio Edgar Johns Cuellar Junior (técnico administrativo e CDS) para realizarem os mesmos serviços recebem 25 (vinte e cinco) diárias; onde consideramos um absurdo, uma vez que o senhor Edgar foi comissionado da gestão passada. Sabedores do apreço de nosso governador em prestigiar os funcionários públicos estaduais, ficamos sem entender que critério foi adotado para este setor, pois em vez dos servidores do pátio realizarem o trabalho é os gerentes que se utilizam do serviço para serem beneficiados. Outro agravo é que nos forçam a executar tais serviços de forma dobrada.
Portanto, já cansados de tanta humilhação e falta de respeito conosco, pedimos as devidas providências imediatas para o caso, pois asseveramos que enviaremos cópia desta ao Ministério Público e demais órgãos defensores dos direitos dos trabalhadores, bem como à imprensa para assegurarmos o nosso sagrado direito ao trabalho.
Em tempo, o dito diretor gaba-se de que o senhor Governador, o seu Secretário Mário Jorge e a Secretária Adjunta Izabel do total aval as suas decisões.
Não obstante, vimos constantemente o mesmo destratar gerentes de outros setores da SEDUC, Representantes de Ensino e diretores escolares que buscam informações sobre os produtos destinados aos mesmos.
Finalizando, buscamos por intermédio dessa Casa Civil a solução para o caso, haja visto que muitos dos servidores estão sendo colocados à disposição da SEDUC por contrariar as decisões (ditatórias) do Senhor Rodrigo Barros Willians.
Por tudo aqui relatado, pedimos as providências cabíveis.
Porto Velho, 11 de junho de 2012.
Joubert Airton da Silva Magalhães
Obs: os outros servidores não assinaram com medo de represálias.